Se o seu filho vai iniciar o processo de adaptação escolar, seja pela primeira vez, de mudança para uma nova escola ou mesmo na volta das férias, a primeira coisa que você precisa fazer é respirar. Esse pode ser um momento delicado e difícil tanto para a criança quanto para as famílias, mas quanto mais tranquilos e seguros os adultos estiverem, melhor será o processo como um todo.
Neste artigo, o clube de assinatura Quindim traz algumas dicas práticas que você pode ajustar à realidade da sua família para tornar o período de adaptação escolar mais fácil para o seu filho, com gentileza, acolhimento e confiança.
O que é adaptação escolar
Adaptação é o período que levamos para nos familiarizar com alguma coisa nova. Sendo assim, a adaptação escolar pode ser:
- de uma criança que está indo para a escola pela primeira vez, como um bebezinho indo para a creche;
- de crianças que estão entrando em uma nova instituição, seja porque mudaram de cidade ou por outra necessidade da família;
- de crianças que estão retornando das férias e vão encontrar uma série de coisas diferentes, como salas de aula e professores, mesmo em um ambiente que já conhecem.
Todas essas situações exigem calma, flexibilidade e paciência, tanto por parte das crianças quanto dos pais. É natural que alguns casos levem mais tempo do que outros, e a idade dos pequenos também pode influenciar.
Por isso, tenha em mente que não existe uma regra, então pode ser que o seu filho leve de poucos dias a cerca de um mês para se acostumar com a ideia de ir para a escola todos os dias. Resista à tentação de ficar comparando seu filho com as outras crianças. O tempo de adaptação muda caso a caso, e está tudo bem!
O que não muda é a importância do papel dos pais, cuidadores e professores nessa jornada. Sendo assim, vamos ver por onde você pode começar a efetivamente ajudar as crianças a abraçar a ideia da mudança, tornando esse período o mais leve possível para todos.
Adaptação escolar na prática: por onde começar?
Pois bem, está chegando a hora. Você fez uma vasta pesquisa sobre as escolas da região e, depois de visitar algumas candidatas, encontrou aquela que conjuga uma boa metodologia de ensino, segurança, estrutura, preço e tudo o mais que você estava procurando para o seu filho, dentro das suas possibilidades.
E, agora, por onde começar?
1 – Converse com seu filho
No caso das crianças que já falam, converse bastante sobre a escola. Fale sobre como será legal fazer novos amigos e aprender, como isso significa que a criança está crescendo, e explique sobre as diversas atividades diferentes que o pequeno poderá fazer, como pintar, colorir, mexer com massinha, conhecer números e letras e muito mais.
Faça o trajeto de casa até a escola e vice-versa algumas vezes, para tornar esse caminho bastante familiar para a criança. Se for possível, combine com a escola uma visita para conhecer as salas de aula, a biblioteca, o pátio, a cantina e a quadra, por exemplo.
Só fique atento para não exagerar demais nessa antecipação e acabar transformando-a em ansiedade, tudo bem? Converse sobre a escola e os aspectos bons de fazer parte dela, mas não torne esse o único assunto com seu filho todos os dias, o dia inteiro.
2 – Coloque a criança no centro da mudança
Que tal envolver seu filho nos preparativos para quando o grande dia chegar? Crianças adoram se sentir úteis e participar das atividades da casa, e permitir que seu filho faça isso com relação à escola pode ajudar na adaptação escolar.
Quando for comprar os materiais da lista solicitada pela instituição, permita que o pequeno opine na escolha de alguns itens, como estojo, mochila e lancheira. Você não precisa deixar a escolha totalmente aberta e dizer “pegue o que você gostar mais”, porque assim a conta tende a ficar bem alta, sem dúvidas.
Mas é possível apresentar duas ou três possibilidades que você já avalia como sendo adequadas e deixar que a criança defina de qual gostou mais. Nos dias que antecederem o começo das aulas, chame a criança para ajudar a colocar as etiquetas com seu nome, a organizar a mochila, separar o uniforme e até a pensar no lanchinho.
E, por falar em lanche, no caso das crianças pequenas que estão em pleno desenvolvimento da autonomia, pode ser útil praticar como será a hora do lanche, por exemplo. Para isso, informe-se com a escola sobre como eles costumam fazer e simule em casa como abrir a lancheira, colocar a toalhinha sobre a mesa, abrir o pote e a garrafinha com o lanche e guardar tudo depois.
Além de contribuir positivamente com uma adaptação escolar mais tranquila, você estreita os laços com seu filho e mostra para ele, na prática, que está e estará presente durante todo o processo.
3 – Coloque um pedacinho de casa na mochila
Essa dica é válida especialmente para os bebês e crianças que ainda não começaram a falar. Quando as aulas iniciarem, coloque um pedacinho de casa na mochila, algo que remeta a criança ao lar e a deixe mais segura.
Pode ser um bichinho de pelúcia, uma fraldinha de pano ou uma naninha. Até mesmo um pequeno travesseiro para usar na hora da soneca pode fazer que a criança se sinta mais tranquila durante a adaptação.
Caso a criança já seja maiorzinha, você pode deixar que ela mesma escolha o que quer levar para a escola naquele dia, desde que esteja de acordo com as normas da escola. Brinquedos eletrônicos, caros e grandes demais geralmente estão fora dessa lista.
4 – Não saia sem dar tchau
Essa é uma orientação verdadeiramente importante e que muitas famílias desconhecem. Ao deixar seu filho na escola, dê tchau, não saia escondido e nem desapareça acreditando que assim é melhor para ele. Seu filho vai chorar? Sim, muito provavelmente, mas o choro faz parte da adaptação escolar e da vida como um todo, e precisa ser acolhido, não evitado a qualquer custo.
Então, diga para o seu filho algo como “tchau, meu amor, até mais tarde!”, entregue-o para a professora e saia. Quanto mais você prolongar essa despedida, mais difícil será para o pequeno. Então, seja firme nesse momento, mas nunca deixe de se despedir com clareza, para que aos poucos ele entenda que você vai, mas volta para buscá-lo.
5 – Cumpra com os combinados
Esse é mais um aprendizado para a vida, indo bastante além da adaptação escolar. Seu filho precisa saber que você cumpre com os combinados e que a sua palavra tem valor, pois disso nascerá a confiança dele em você.
Isso vale tanto para as coisas boas, como para as coisas difíceis. Por exemplo: se você diz “vamos tomar um sorvete depois de sair do parquinho” e cumpre com isso, seu filho registra mentalmente que você faz o que diz.
Se você diz “podemos ver um filme depois que você guardar seus brinquedos”, mas cede rapidamente quando a criança não faz a sua parte, ele também vai registrar isso. E aqui não se trata de ser rígido nem desconsiderar o que aconteceu no dia, ou aquilo pelo que a criança está passando, mas, sim, de ser consistente, para que a criança compreenda verdadeiramente que pode contar com você.
Então, se você disser para o seu filho que vai esperar no pátio da escola, faça isso. Se disser que será o primeiro a chegar na hora da saída, esteja lá para que seu filho o veja assim que o portão se abrir.
E, se porventura um dia acontecer algo que atrapalhe o combinado, seja sincero e fale a verdade sobre o que aconteceu. Não minta, e acolha a frustração do seu filho por algo que não saiu como o planejado porque, vamos ser sinceros, isso pode acontecer com qualquer um. O que não dá é para normalizar a quebra de acordos como se não fosse nada demais.
6 – Busque o meio termo
Equilíbrio é tudo nessa vida, e na adaptação escolar não é diferente. Mudar não é fácil para ninguém, então pode ser que seu filho se sinta inseguro, irritado, com medo e frustrado nos primeiros dias na escola. Isso faz parte do processo, e agir como se não fizesse não vai ajudar nem a criança nem você.
Por isso, procure o meio termo entre ser firme, indicando como a escola é importante, como é necessário que o pequeno esteja ali, quantas coisas boas vão vir disso, ao mesmo tempo em que é acolhedor, oferecendo colo e abraço quando o choro vier.
Caso a criança tenha irmãos, amigos ou primos mais velhos que já estejam na escola, peça que conversem sobre quantas coisas legais acontecem no ambiente escolar para encorajar o seu filho. Ver crianças maiores que já estão na escola e gostam muito de lá pode ajudar bastante na adaptação.
7 – Fique de olho na rotina
Crianças que não frequentam a escola costumam ter um tipo de rotina em casa. Ainda que haja um momento para as refeições, a soneca, as brincadeiras e o banho razoavelmente definidos, pode ser que a hora de fazer cada uma dessas atividades seja mais flexível.
Quando a escola entra em cena, isso muda, pois há horários a cumprir. Então, imagine uma criança que dorme tarde, acorda tarde e que precisa acordar às 6h para estar na escola às 7h. Não tem como isso dar certo de um dia para o outro, não é?
Faça mudanças graduais na rotina da casa e da criança considerando os horários da escola. Se seu filho vai precisar acordar mais cedo, não antecipe o horário de despertar em duas horas de uma vez. Vá fazendo aos poucos, alguns minutos por dia, todos os dias, e já inclua as outras atividades, como banho e refeições, nesse novo horário. Ser consistente levará você e seu filho mais longe do que ser rápido.
8 – Mantenha diálogo constante com a escola
O seu relacionamento e do seu filho com professores, coordenadores e auxiliares será construído aos poucos, assim como qualquer outro. Mas é fundamental que você informe a escola sobre tudo o que achar relevante a respeito do seu filho para facilitar o processo de adaptação escolar.
Isso é especialmente importante no caso das crianças neurodivergentes ou com deficiência, pois a instituição precisa providenciar as mudanças necessárias para acolher o seu filho. Lembrando sempre que inclusão não é favor! Seu filho tem direito de estudar e a escola tem obrigação de atendê-lo. Então, antes do começo das aulas, marque uma conversa e vá até a instituição para que essa conversa e os combinados sejam feitos pessoalmente.
Ao longo do ano letivo, mantenha o diálogo sempre aberto. E não se esqueça que mudanças em casa, como a chegada de um irmãozinho, uma avó que vai passar a morar com a família, um parente próximo que está doente, a mudança para um outro apartamento, entre outras coisas, podem impactar o comportamento da criança na escola, que precisa ser avisada o quanto antes.
9 – Seja sincero com seu filho
Lembra do que falamos sobre cumprir com os combinados? Ser sincero com seu filho também influencia diretamente na relação de confiança dele com você. Então, diga a verdade!
Se seu filho perguntar se vai ser muito difícil ficar com saudades de você enquanto estiver na escola, diga que no começo sim, mas que muitas outras coisas interessantes vão acontecer e que, no final da aula, você estará lá para buscá-lo.
Fale sobre os novos amigos, e procure marcar encontros fora da escola para fortalecer esse vínculo. Podem ser idas ao parquinho, a uma pracinha perto de casa, um passeio para assistir uma peça de teatro ou qualquer coisa do tipo.
Transformar a escola, que é desconhecida, em algo acolhedor, agradável e um lugar onde seu filho deseja estar pode levar tempo, mas é totalmente possível.
10 – Prepare-se você também
Organizar tudo com a escola e com a criança é fundamental, mas pode não funcionar como você deseja e se deixar de cuidar de si mesma nesse processo. Então, se você fez uma boa pesquisa e está segura da escolha pela instituição onde vai deixar seu filho uma boa parte do dia, respire fundo e lembre-se de acolher a si mesma também.
Não são raros os casos em que a criança dá tchau na porta da escola e segue em frente sem nem olhar para trás, porém a mãe está em frangalhos, chorando horrores e se sentindo extremamente culpada.
A separação pode ser dolorosa para os adultos também, que precisam lidar com sentimentos de ansiedade e insegurança por deixar seu pequeno com pessoas que, por enquanto, são desconhecidas.
Por isso, procure apoio de outras mães, pais e cuidadores que estejam passando pela mesma situação, estabeleça combinados com a escola para saber como está sendo o dia a dia da criança e dê tempo ao tempo. Você também vai se adaptar.
11 – Crie laços com outras famílias
Pode ser que o seu filho ingresse na escola na educação infantil e saia apenas quando for para a faculdade. Ou, em vez disso, pode ser que ele precise mudar de escola a cada dois ou três anos por conta do seu trabalho.
De um jeito ou de outro, as famílias dos coleguinhas de turma do seu filho são uma rede importante. Seu filho passa boa parte do dia com essas crianças, e é natural que surjam sentimentos intensos como o do amigo favorito ou aquele com quem a criança parece não conseguir se dar bem de jeito nenhum.
A melhor maneira de estabelecer diálogo sobre essas situações é se aproximando dos outros pais. Então, sempre que possível, participe de momentos de convívio social fora da escola, como festinhas de aniversário, piqueniques e passeios em conjunto. Troque números de telefone e participe dos grupos de WhatsApp.
Você não precisa se tornar instantaneamente a mãe ou pai representante de turma se não quiser fazer isso, mas é bom conhecer as outras famílias e deixar que elas conheçam a sua também.
12 – Converse com a criança sobre o que aconteceu na escola e escute com atenção
Demonstrar interesse sobre os acontecimentos da escola pode estabelecer um importante canal de diálogo com seu filho, que será fundamental quando ele estiver na adolescência. Mas, veja bem, esse interesse precisa ser natural e respeitoso, e não impositivo, do tipo que exige que a criança conte tudo, absolutamente tudo, como se fosse um interrogatório.
Você pode perguntar coisas como qual foi a atividade mais interessante, que palavra nova o pequeno aprendeu, com quem sentou na hora do lanche e do que brincou durante o recreio. Mas não deixe de perguntar, também, se houve algo que ele não tenha gostado, se teve algum momento mais difícil e coisas do tipo.
Quando a criança responder, escute com atenção! Uma resposta animada sobre um determinado tema é um bom sinal e você pode investir mais nesse tema da conversa. Mas respostas evasivas ou superficiais como “tudo bem” e “tudo normal”, podem ocultar experiências que não foram tão boas e que, por algum motivo, a criança não quer falar.
Se isso acontecer, não imponha nem force a criança a responder. Diga que você está lá para ajudá-la em tudo o que puder, que ela pode confiar em você e que é seguro contar a verdade. Aja de acordo com essa promessa para, aos poucos, se tornar a pessoa para quem seu filho quer contar sobre o que aconteceu, e não de quem ele quer esconder determinadas coisas.
Com o tempo, você poderá contar sobre como foi o seu dia também, e verá crescer um tipo de relação de confiança, cumplicidade e diálogo muito preciosa.
13 – Seja compreensivo com mudanças de comportamento
Pode ser que seu filho chegue desanimado da escola, chorando muito e até fazendo birra. Isso pode até ser reflexo de cansaço, de fome e de sono. Acolha a criança, dê colo, leve-a para casa e proporcione atividades que farão que ela relaxe e volte para seu estado normal. Aqui, vale um banho morninho, um livro de histórias, uma comida gostosa e bastante carinho.
Todos nós temos dias difíceis e não existem mães e pais perfeitos. Mas é fundamental ter em mente que nós somos os adultos da relação, e que não podemos punir as crianças por expressarem com comportamentos desafiadores algo que elas ainda não conseguem fazer totalmente usando as palavras, mesmo que já saibam falar.
É só pensar no seguinte: se mesmo para nós muitas vezes é difícil colocar em palavras como estamos nos sentindo, na hora em que sentimos, como exigir que as crianças façam o mesmo? Refletir e processar nossos sentimentos e emoções para que consigamos verbalizá-los é algo que se inicia na infância e que, frequentemente, levamos a vida toda para conseguir aprimorar.
14 – Observe com atenção e fique atento aos detalhes
A adaptação escolar pode ser difícil em alguns casos, então é preciso estar atento aos detalhes para ajudar seu filho da melhor maneira possível, e o quanto antes. Mudanças de comportamento que implicam em dificuldade para dormir, comer, fazer xixi e cocô são muito relevantes e não podem ser negligenciadas.
Há casos de crianças que se recusam a fazer xixi e cocô na escola por não saberem como será o processo de higiene pessoal, por exemplo, ou por terem feito uma vez e a limpeza ter sido muito diferente do que acontece em casa.
Como é algo crucial para a saúde do pequeno, os pais precisam combinar com professores, auxiliares e coordenação como será o procedimento, para respeitar a criança sem colocar sua saúde e segurança em risco.
O mesmo vale para a alimentação. Se seu filho tem alergia a algum tipo de comida, por exemplo, não basta informar a professora. Avise aos pais das outras crianças também, pois no caso dos aniversários comemorados com os coleguinhas é preciso fazer adaptações para que todos participem sem nenhum tipo de perigo.
Se a criança é bebê e ainda não fala, a preocupação e o nervosismo com sua segurança tendem a ser ainda maiores. Tenha um pediatra de confiança com quem conversar diante de mudanças físicas ou comportamentais do pequeno e estabeleça acordos com a escola sobre como e com que frequência serão dadas informações sobre o andamento da adaptação da criança. Faça a sua parte e solicite que a escola faça a parte dela também.
Vejam também: Cantina escolar: a importância da alimentação saudável para as crianças.
15 – Transmita confiança e tenha paciência
Você é a principal referência para seu filho. Então, mesmo diante das dificuldades e desafios da adaptação escolar, se você estiver firme e transmitir confiança, a tendência é que seu filho se sinta encorajado a confiar também.
Seja paciente com o ritmo da criança, e saiba que mesmo depois que a adaptação estiver (teoricamente) concluída pode ser que alguns dias sejam mais difíceis do que outros. Durante o desfralde, a transição da mamadeira para o copinho, a retirada da chupeta, o fim da soneca na escola ou outras mudanças mais significativas podem exigir bastante da criança, e o melhor que você pode fazer para facilitar tudo isso é acolher e ter paciência.
Dê bastante colo, amor e carinho, e siga próximo, de mãos dadas com seu filho, durante essa que é apenas uma das primeiras de muitas mudanças, novidades e desafios incríveis que ele irá enfrentar ao longo da vida.