Você já ouviu falar em livro brincante? Embora o termo seja parecido com livro-brinquedo, não se trata da mesma categoria, já que, em vez de ser um objeto que traz a brincadeira pronta para a criança – como apertar um botão e ouvir o som de um animal, sem que o recurso esteja vinculado a uma narrativa –, ele é caracterizado por proporcionar ao leitor diversas possibilidades de interação e brincadeiras.

É o que acontece, por exemplo, com textos que trabalham jogos de palavras ou musicalidade a partir de rimas, bem como com ilustrações e projetos gráficos que trazem interações ou desafiam o olhar de quem está lendo.

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Imagem do livro “De pedaço em pedaço“, de Chiara Armellini. Foto: Rodrigo Frazão

“O livro brincante combina a materialidade do objeto com o estímulo à atividade lúdica, convidando o leitor a interagir diretamente com suas páginas e formatos. Ele se caracteriza por sua proposta de unir a brincadeira ao ato de ler, permitindo uma experiência sensorial e criativa”, explica Elizabeth Cardoso, escritora, pesquisadora e professora de literatura na PUC-SP/CNPq, além de uma das curadoras do Clube de Leitura Quindim.

Já o livro-brinquedo tem uma abordagem mais experimental (com elementos como velcro, sons, abas, entre outros), muitas vezes se assemelhando ao livro-objeto – aquele que traz uma experiência tátil e visual própria. “Ele explora elementos gráficos, plásticos e tecnológicos, funcionando como uma interface entre a leitura, a brincadeira e a apreciação estética.  Ambos podem ser destinados a diferentes níveis de leitores, mas o livro-brinquedo geralmente se destaca por sua capacidade de oferecer possibilidades de interação pré-programada, enquanto o livro brincante tem seus potenciais de brincadeira mais abertos, dando uma liberdade maior ao leitor de direcionar sua leitura-brincadeira de forma mais independente”, explica a pesquisadora.

livro brincante
Exemplo de bebê interagindo com um livro-brinquedo.
Foto: Canva
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O caráter literário do livro brincante

Para Elizabeth, a principal questão não é sobre quais são os recursos presentes em um ou outro, como elementos textuais, pop-ups, abas, rodas que giram, texturas variadas e sons, mas de que forma eles são usados no livro. “A grande marca do livro brincante é utilizar todos esses recursos em função da linguagem literária, artística, estética. Não é meramente apertar um botão para ouvir um acorde; isso deve estar vinculado a uma narrativa, a uma experiência estética e imaginativa”, explica a pesquisadora. Nesse sentido, ela acredita que um livro mais orgânico, com recursos menos sofisticados, pode proporcionar uma leitura brincante mais interessante do que um livro-objeto permeado de 3D e tecnologias.

“Ambos os gêneros têm seu valor, mas o livro brincante tende a oferecer uma experiência mais ampla e estimulante, pois combina elementos narrativos e lúdicos de maneira integrada. Ele permite maior liberdade criativa, incentivando a imaginação e o desenvolvimento de habilidades cognitivas e sensoriais”, destaca Elizabeth, que pondera: “depende da proposta literária de cada projeto”.

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Imagem do livro “Caderno de férias“, de Grassa Toro e Isidro Ferrer. Crédito: Rodrigo Frazão

Como trabalhar com um livro brincante

Ao apresentar um livro para a criança, é comum que o adulto se coloque mais do que o necessário nessa experiência. Ainda que a intenção seja boa – a de estimular o pequeno e direcionar seu olhar para certos elementos – acaba fazendo apontamentos e perguntas que podem gerar o efeito contrário, diminuindo o interesse pela leitura.

“Muitas vezes, tendemos a interferir demais, seja ao corrigir comportamentos ou ao tentar direcionar a experiência. É importante confiar na capacidade da criança de explorar e construir seus próprios significados, oferecendo mediação apenas quando necessário e de forma não invasiva”, orienta a professora.

Nesse sentido, criar um ambiente que encoraje a livre exploração dos livros, oferecendo-os como objetos acessíveis e convidativos, sem regras rígidas, é um passo importante que ela ressalta. “Permitir que a criança interaja espontaneamente com o livro, folheie e toque, é essencial para que ela desenvolva uma relação de prazer e curiosidade com a leitura. No caso de livros brincantes e de livros-brinquedo, essa questão é ainda mais sensível, pois seu propósito é justamente ser manipulado e explorado”, afirma.

Para isso, também vale desconstruir a ideia de que o livro é um objeto que não pode sofrer danos – ainda mais nas mãos de uma criança. “Livros são feitos para serem usados, explorados e, muitas vezes, desgastados pelo uso. Crianças e jovens devem sentir-se à vontade para manuseá-los sem medo de danificá-los, desenvolvendo uma relação de proximidade e afeto. Ler em diferentes contextos, mesmo que fora dos ambientes convencionais, como escolas ou bibliotecas, enriquece a experiência leitora”, reforça Elizabeth, que lembra ainda que é possível ensinar os cuidados com as obras literárias evitando atitudes excessivamente protetoras.

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Como a relação entre ler e brincar importa para a formação leitora

A brincadeira é uma das principais formas pelas quais os pequenos apreendem o mundo e desenvolvem habilidades. Por isso, unir a leitura ao brincar é algo tão poderoso na primeira infância, na medida em que, como salienta a pesquisadora, cria uma experiência rica que combina narrativa, interação e experimentação sensorial. “Livros que integram esses elementos tornam-se ferramentas poderosas na formação do gosto pela leitura, especialmente em fases iniciais. Eles estimulam a curiosidade, a criatividade e o engajamento da criança, conectando a leitura ao prazer e à descoberta”, reforça.

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Imagem do livro “O livro do botão“, de Sally Nicholls e Bethan Woollvin. Crédito: Rodrigo Frazão

Segundo Elizabeth, quando o brincar é associado ao ato de ler – como acontece com os livros brincantes – a construção de sentidos, a imaginação e o desenvolvimento cognitivo são potencializados. “Essa abordagem também ajuda a criar conexões emocionais com os livros, favorecendo a formação de leitores autônomos e engajados. Além disso, ao capturar a atenção infantil com jogos interativos e narrativas envolventes, os livros brincantes oferecem um caminho eficaz para superar barreiras como a falta de interesse ou a dispersão em atividades de leitura tradicionais”, acrescenta a pesquisadora.

Isso significa que, se o seu filho demonstra certa resistência para ler, talvez os livros brincantes sejam uma boa alternativa para despertar o interesse pela literatura, que tende a ir aumentando, se diversificando e se consolidando com o passar do tempo.

Estante Quindim

O Clube Quindim já enviou livros brincantes aos seus assinantes. Conheça alguns deles:

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O livro do botão, de Sally Nicholls e Bethan Woollvin
CriancasEscondidas CapaTransparente e1735587286905
Crianças escondidas, de Franco Matticchio
oEnigmadoCamaleao CapaTransparente e1727463671684
O enigma do Camaleão, de Guto Lins