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Como acolher e ensinar a criança a lidar com a decepção?

decepção

Foto: Canva / Arte: Quindim

É duro pensar que os filhos inevitavelmente se sentirão decepcionados em algum momento da vida. Eles nem sempre serão convidados para a festinha do colega de classe, escolhidos na brincadeira da educação física, ou serão vistos com a mesma importância que dão a um amigo. Talvez possam ainda se sentir chateados ao estudar tanto pra uma prova e ir mal mesmo assim. Perceber que a vida pode ser amarga, é um sentimento difícil de ser digerido. Para as crianças, mas também para os pais, que não querem ver os filhos sofrerem.

A decepção, no entanto, faz parte da vida e é necessária para o amadurecimento emocional, criando a capacidade de recomeçar e ser mais gentil consigo quando suas expectativas forem frustradas. Por isso, para que seja possível lidar com o sentimento quando ele aparecer, é importante que os pais criem um ambiente seguro, onde os pequenos possam se sentir acolhidos e buscar apoio sempre que enfrentarem essas situações.

Nesse espaço subjetivo, a criança deve ser amparada, principalmente nos momentos em que não conseguir se regular sozinha. Se ela se sentir inadequada ao expressar suas emoções da forma que consegue no momento, isso poderá dificultar a sua capacidade de externalizá-las no futuro.

“As crianças ainda não conseguem lidar com as decepções, porque seu cérebro é imaturo. Não existe uma forma que elas conseguem raciocinar ou lidar com questões emocionais que ainda são muito complexas. Elas precisam da calma do adulto para se acalmar”, reflete a psicóloga clínica Mariana Lima, educadora parental especialista em educação e neurodesenvolvimento infantil.

crédito: Canva

Cada adulto lida de uma forma com o que o afeta emocionalmente e não é diferente com as crianças. Só que, por conta de ainda possuírem um cérebro imaturo, há comportamentos que são mais comuns de ocorrerem. Segundo Mariana, os principais são as crises de birra, choro, grito e raiva.

“Não é papel dos pais criarem situações que frustrem as crianças. Mas é responsabilidade deles acolher as crises dos filhos, porque lidar com decepções é para toda vida. A forma que as crianças entendem como seus responsáveis a tratam em momentos de decepção é a maneira que vão aprender a lidar com eles no futuro”, pontua a psicóloga clínica.

O direcionamento do pequeno ao se sentir frustrado é fundamental para que no futuro ele não caia em armadilhas emocionais como a de estar sempre culpando os outros por suas decepções — sem assumir a sua parcela de responsabilidade nas situações — e querendo que ele resolva seus problemas, já que não aprendeu a encontrar suas próprias soluções e tolerar a sensação de estar decepcionado.

Veja também: Por que é importante a criança aprender a lidar com a frustração ainda na infância?

5 maneiras de ensinar a criança a lidar com a decepção

Crédito: Canva

A primeira forte decepção pode vir acompanhada daquela sensação de “fim do mundo” para a criança e, naquele momento, realmente é. Isso porque ela não sabe como seguir a partir da quebra de expectativas. Os responsáveis por ajudá-la a recomeçar são os pais e há maneiras de fazer isso com acolhimento, firmeza e carinho. Confira!

1. Nomeie para a criança o que é a decepção

As emoções primárias, como alegria, tristeza e raiva, são mais fáceis de serem reconhecidas pela criança, pois fazem parte de sua natureza e estão ligadas ao instinto de sobrevivência. Já as emoções secundárias, como a decepção, são aprendidas ao longo da vida.

Cabe aos pais explicar que o simples ato de querer algo nem sempre garante que as coisas acontecerão como o planejado, e a sensação resultante disso é a decepção. É essencial também mostrar que esse sentimento pode surgir quando as pessoas agem de forma diferente do que esperávamos.

Esse tipo de diálogo ajuda a criança a entender, gradualmente, que a vida nem sempre corresponderá às suas expectativas, mas isso não a torna ruim. Isso se aplica tanto às relações com amigos e familiares quanto à forma como ela enxerga a si mesma. Aprender a tolerar a frustração envolve compreender que os outros também precisam lidar com ela, especialmente quando suas atitudes, mesmo sendo positivas para você, podem não ser para os demais.

É preciso paciência nesse processo, pois ele é especialmente desafiador na primeira infância, quando a criança acredita que tudo que ao seu redor acontece como resultado de suas ações. Isso se aplica tanto a situações positivas quanto negativas. No entanto, com a orientação adequada, ela vai gradualmente superando essa crença.

2. Valide as emoções sentidas ao estar decepcionado

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O diálogo é primordial para entender o que é a decepção, mas ele nem sempre vai ser possível logo de cara. A primeira resposta da criança costuma ser o choro e/ou a birra estimulada pela raiva. Essas reações precisam ser acolhidas pelos pais.

Lima os orienta a deixarem a criança esgotar o que está sentindo, mas sem abrir espaço para o abandono. Para isso, um abraço apertado e um colo de quem a ama são imprescindíveis. A troca física ensina para o pequeno que, embora as emoções difíceis sejam inevitáveis, não é preciso passar por elas sozinho.

A psicóloga clínica reforça que a decepção não deixa de ser um luto. Essa consciência nos ajuda a ter mais empatia em relação ao sentir tão visceral da criança, sem colocar limites para o quanto ela deve chorar ou não, por exemplo. Caso contrário, isso pode fazer com que ela tenha dificuldade em expressar suas emoções no futuro e se sinta inadequada ao fazer isso.

3. Pergunte para a criança o que ela quer fazer a partir do que está sentindo

A partir do momento que a criança consegue se acalmar com um abraço apertado e o colo dos pais, é importante abrir espaço para que ela escolha o que fazer a partir do que está sentindo. Uma forma simples de fazer isso é perguntar para ela o que quer.

Incentivar o pequeno com questionamentos o ajuda a encontrar suas próprias soluções. Mais uma vez, é papel dos pais orientar esse processo. Porém, o desfecho é da criança que ao perceber seu progresso, experimenta a satisfação de se sentir capaz.

Uma das orientações da educadora é devolver uma pergunta à criança quando ela faz um questionamento, incentivando-a a refletir até que consiga, por si mesma, encontrar a resposta para sua dúvida.

Veja também: Autorregulação: é possível ajudar sua criança a se acalmar?

4. Dê alternativas para recalcular a rota das emoções

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O pequeno deve ter liberdade para esgotar o seu choro em um ambiente seguro. Só que é preciso ter sensibilidade para saber quando ele não está conseguindo sair do ciclo da tristeza e/ou raiva sozinho, dando alternativas para ele.

Para entender o que pode ajudá-lo, vale revisitar o que você, como adulto, gosta de fazer para amenizar a sensação de frustração ao se decepcionar com algo. Conversar com um amigo? Desenhar? Dançar? Sair para caminhar? Meditar?

Todos os recursos saudáveis são válidos e possíveis de adaptar para o público infantil. Esse processo também faz parte de ensinar para a criança diferentes formas de administrar um mesmo sentimento. Nem sempre o nosso cérebro consegue processá-lo de primeira — e tudo bem. A vida é sobre perspectiva.

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5. Evite anular o sentir com recompensas físicas

Ouvir a criança chorar, porque está se sentindo decepcionada não é fácil, mas encurtar o processo pode ser perigoso. Um exemplo disso é quando, para cessar a lágrima do pequeno, o adulto oferece a ele um presente.

A barganha pode solucionar o problema momentaneamente, mas a longo prazo é uma armadilha. O indivíduo tende a crescer com a crença de que para ele se sentir melhor, ele precisa comprar algo material. Caso a sensação ruim não melhore com o primeiro item adquirido, não há nenhuma garantia de que ele não entrará no limbo de sair comprando descontroladamente até se sentir melhor.

O mesmo se aplica à comida. Embora o conceito de “comfort food” tenha ganhado popularidade, é fundamental ter cuidado para que os alimentos não se tornem uma moeda de troca, o que pode levar a extremos nos transtornos alimentares.

Estante Quindim

Conheça 3 livros infantis que abordam o tema para ler com as crianças:

O coelho escutou…, de Cori Doerrfeld
O ponto, de Peter H. Reynolds
Eu falo como um rio, de Jordan Scott e Sydney Smith
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