Leia o relato de Xadalu Tupã Jekupé. Ele nos conta que, quando era criança, gostava de pegar frutas no pé, na companhia de seus amigos, enquanto sentia o perfume da hortelã, do milho e da mandioca e esperava a chuva cair, fazendo uma festa em seu peito.
Assim como tantas outras pessoas, Xadalu precisou ir embora de sua terra porque já não havia mais espaço para que ele e sua família pudessem viver e se alimentar: o rio passaria a ser fronteira, do que se plantava aqui e do lado de lá. Um plantio que tinha colheita, mas não consumo — era só mesmo para acumular. A avó de Xadalu lhe contara que nem sempre foi assim e, no começo de tudo, havia mata, animais, rios, flores e palmeiras. Nesse tempo, a terra não tinha dono.
O livro escrito e ilustrado por Rita Carelli com a biografia de Xadalu Tupã Jekupé vem nos falar de sua infância em Alegrete, no Rio Grande do Sul, e sua posterior mudança para Porto Alegre, assinalada pelo choque de descobrir uma cidade totalmente cinza, com rios tampados por asfalto ou cobertos por lixo. É um relato íntimo, particular e envolvente que nos leva a imaginar como se sentiram as pessoas integrantes dos povos originários que, desde 1500 até os dias de hoje, ainda precisam lidar com invasão de terras, ameaças e subsequente redução de seu espaço.
Em contraponto, existe a poesia do texto, fazendo-nos pensar como as cidades onde vivemos foram criadas e construídas... Não estaremos todos nós habitando um antigo território indígena?