A amamentação em livre demanda é aquela em que o bebê pode mamar sempre que quiser, durante o tempo que precisar, até que se sinta satisfeito. A quantidade de vezes em que isso acontece ao longo do dia e da noite, bem como o tempo que dura cada mamada, vai variar de criança para criança, considerando também a quantidade de leite disponível em cada seio.

A mãe também pode definir os momentos em que as mamadas vão acontecer mesmo quando o bebê não solicita o seio, o que acontece especialmente com recém-nascidos. Esses momentos costumam ocorrer quando os seios estão cheios e antes que fiquem doloridos, prevenindo assim que aconteçam problemas como o ingurgitamento mamário.

Amamentação em livre demanda o que é e quais são os benefícios.

Amamentação em livre demanda e a sintonia entre mãe e bebê

Quando um bebezinho nasce, seu estômago é muito pequeno e esvazia muito rápido. Por isso, mesmo que mame o bastante a ponto de ficar com a barriguinha cheia, essa digestão tende a se dar rapidamente, e logo o bebê precisará mamar de novo.

Inicialmente, nem a mãe, nem o seio da mãe sabem exatamente quanto leite precisa ser produzido, e em muitos casos essa quantidade será maior do que o bebê consegue consumir a cada mamada. É aí que acontecem os vazamentos, as mamas duras e doloridas e o ingurgitamento de que falamos.

Para acertar o compasso na produção da quantidade ideal de leite que o recém-nascido irá consumir, é preciso que entrem em cena os dois principais atores da amamentação: a mãe e seu bebê. Enquanto o bebê mama, o corpo da mãe aprende qual a quantidade de leite que ele precisa, regulando por conta própria sua produção.

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Para chegar nessa sintonia em que não há leite demais nem de menos, é preciso tempo. E, não vamos mentir. É natural? Sim, mas também é muito cansativo, difícil, e pode ser doloroso, especialmente nos casos em que a pega correta do seio não acontece tão rapidamente.

No caso dos recém-nascidos pode ser preciso que a mãe acorde o bebê para mamar, mas, conforme o bebezinho for ficando maior, ele mesmo será capaz de reconhecer que está com fome, sinalizando para a mãe que precisa comer.

Aqui, vale dizer que nem só de choro se faz um bebê com fome: movimentos mais agitados da cabeça, boca aberta procurando o que abocanhar, sucção de mãos e dedos e “cabeçadas” quando está no colo também são indícios de que o pequeno precisa do seio.

Benefícios da amamentação em livre demanda para mãe e bebê: peito não é só comida

Ao longo do processo de amamentação, seja em livre demanda ou não, o que as mães mais costumam ouvir são os famigerados palpites. Se, em alguns casos, a intenção por parte de quem os fala é ajudar, em outros tantos, o que há mesmo é uma intromissão não solicitada no maternar de uma mulher, que está se descobrindo mãe e precisa de espaço e empatia.

Quando há amamentação em livre demanda, é bastante comum que as pessoas do convívio mais próximo da mãe e do bebê façam comentários como “vai mamar de novo?”, “assim ele não vai querer comer comida” e o fatídico “você está mimando demais essa criança, depois vai se arrepender”.

Além da regulação e do estímulo à produção de leite, como já dissemos, a amamentação em livre demanda fortalece o vínculo entre mãe e bebê, contribui de maneira muito relevante para o desenvolvimento saudável da criança e do seu sistema imunológico, e permite que o bebê aprenda sobre a própria regulação da fome, prevenindo assim excessos e diversos distúrbios alimentares no futuro, como a obesidade. Contudo, o seio da mãe não é apenas fonte de alimento para o bebê mas também de aconchego, segurança, conforto e amor.

Amamentação em livre demanda o que é e quais são os benefícios.

Um bebezinho que não está se sentindo bem porque está com cólica, ou porque os dentinhos estão nascendo, se beneficia muito da proximidade com a pessoa mais importante do mundo para ele, e isso é algo incrível que o contato direto com o seio materno pode proporcionar. Portanto, acolha seu filho sempre que ele precisar, seja por fome ou por qualquer outro motivo. Você e ele só têm a ganhar.

Veja também: Amamentação: por que é tão importante?

Mitos da amamentação em livre demanda

Um dos principais mitos sobre a amamentação em livre demanda diz que a mãe não poderá continuar oferecendo o seio livremente quando voltar ao trabalho, ou ao participar de atividades sociais em que o bebê não está junto. Isso não é verdade!

Uma mãe que amamenta em livre demanda e se ausenta para trabalhar pode continuar permitindo que a criança mame livremente quando estiver em casa, seja antes ou depois do trabalho, nos fins de semana, feriados e durante as férias. No caso das mães que podem dar uma passada em casa ou na escola durante o expediente, também. Quando a criança estiver aos cuidados de outra pessoa que não seja a mãe, ele irá se adaptar a esse novo cuidador, sinalizando os momentos em que está com fome e precisa ser alimentada.

O mesmo vale para as saídas que a mãe pode dar sem o bebê, seja para encontrar com amigos, ir até a padaria sozinha ou dar uma volta de bicicleta. A saúde mental influencia diretamente no bem-estar da mãe e na produção do leite, então, com exceção dos recém-nascidos, que de fato precisam estar próximos da mãe quase que o tempo todo porque mamam muito ao longo do dia inteiro, as mães de crianças maiores não devem se sentir culpadas por organizar alguns momentos da vida sem o bebê.

Esse movimento faz parte do processo de descobrir quem é aquela mulher depois de se tornar mãe, e do entendimento de que ela é um ser humano, com sonhos, desejos e necessidades, que vão muito além da maternidade.

Uma coisa não invalida a outra e, para que a amamentação em livre demanda continue acontecendo mesmo nessas situações, é preciso contar com uma boa rede de apoio, formada por pessoas de confiança, que compreendam e, sobretudo, respeitem as escolhas feitas pela mãe sobre como ela quer conduzir a alimentação e os cuidados com seu bebê.

Amamentação em livre demanda o que é e quais são os benefícios.

Afinal, de nada adianta uma mãe querer prosseguir amamentando em livre demanda até seu bebê completar pelo menos dois anos de idade se assim que ela sai para o trabalho a pessoa que fica a cargo dos cuidados com a criança oferecer escondido uma chupeta ou mamadeira “só para acalmar”.

O mesmo vale para substituir o leite materno que a mãe cuidadosamente ordenhou e armazenou para que seu bebê pudesse mamar enquanto ela está no trabalho por fórmulas artificiais, acreditando equivocadamente que elas farão que a criança durma por mais tempo, ou com base na ideia errônea de que o leite materno está fraco porque a mãe voltou a trabalhar. Isso é desrespeitoso e invasivo, para dizer o mínimo. E é sempre bom lembrar que não existe leite materno fraco!

A rede de apoio é fundamental para fazer a amamentação funcionar. Ainda que mãe e bebê sejam os atores principais, a família, os médicos, os consultores de amamentação, os amigos, os chefes e colegas de trabalho com quem a mãe se relaciona, todos têm um papel a cumprir, e fazer que enxerguem, compreendam e respeitem o limite entre ajudar e interferir é uma luta diária de todas nós.

Em tempo, vale dizer também que, durante a ausência da mãe, a oferta de leite ao bebê deve ser feita por meio do copinho, que evita que a criança confunda o bico do seio com bicos artificiais, colocando em risco a longevidade e o sucesso da amamentação.

E as mães que não conseguiram amamentar?

Falamos bastante sobre os benefícios da amamentação em livre demanda para mãe e bebê e, como sabemos, a própria OMS recomenda que os bebês ingiram somente leite materno no mínimo até os seis meses de idade, e sempre que possível até os dois anos completos ou mais.

Como estamos em um dos países que mais realiza cesarianas eletivas no mundo, e como essas cirurgias muitas vezes podem comprometer a amamentação natural dos bebês, é fundamental falarmos sobre o assunto, pautando o diálogo em informações científicas e de fontes confiáveis e verificáveis. Mas o que dizer sobre os casos em que a amamentação não é possível?

Não são raras as vezes em que uma mulher deseja, sonha e estuda muito sobre amamentação e, mesmo contando com rede de apoio e fazendo tudo o que está ao seu alcance para torná-la possível, não consegue.

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Em alguns casos, podemos estar falando de uma mãe que sobreviveu a um câncer e precisou passar por uma cirurgia de retirada da mama. Em outros, a mãe pode precisar de algum medicamento imprescindível para manutenção da sua própria saúde, que seria nocivo ao bebê ao passar pelo leite. Há casos, ainda, em que o bebê é diagnosticado com galactosemia, uma doença genética rara que impede que a criança faça a digestão da galactose, o açúcar presente no leite materno, impedindo a amamentação natural.

Em outras vezes, o que acontece é que o leite simplesmente não vem. A despeito de toda vontade, de todo preparo, de todo empenho, o leite não vem.

Veja também: Doação de leite materno: conheça mais sobre esta prática tão linda e necessária.

Nessas situações, cabe a todos nós enxergar e acolher, e não demonizar, criticar e punir as mães que não amamentaram seus filhos no peito, seja por que motivo for. Pode ser tanto por uma das razões que mencionamos acima ou por terem chegado nos seus limites físicos e emocionais – todas são igualmente válidas.

Amamentação em livre demanda o que é e quais são os benefícios.

Nós, mulheres, somos criticadas, constrangidas e violadas de todas as maneiras possíveis pela sociedade. Não precisamos contribuir com isso dizendo que alguém é mais ou menos mãe com base em sua via de parto, ou na história de amamentação dessa pessoa.

A informação é, sem dúvida, muito importante! Somente assim será possível prevenir a amamentação com fórmula sem necessidade, por falta de apoio, conhecimento e orientação. Mas é preciso, também, compreender que as maternidades são múltiplas, que não existe um único jeito “certo” de fazer as coisas, e que a imensa maioria de nós está se esforçando ao máximo para fazer o melhor possível.

Não se trata aqui de defender e muito menos de fazer apologia à amamentação com os leites de latinha, mas sim de entender que, em muitos casos, eles significam o caminho possível para manter vivo e saudável um bebê.

Um bebê que é tão amado, desejado e querido quanto aquele que mama no peito, seja em livre demanda ou não. Um bebê que também precisa receber muito carinho, que merece todo cuidado e que certamente vai exigir doação por parte de sua mãe. Uma mãe que, muitas vezes, estará com o coração partido por não poder amamentar, mas que sabe que mamadeira também é possível de se dar com amor.

Veja também: O puerpério e o nascimento de uma mãe.