Um trem que cruza pontes, passa por postes, pastos, galhos, boiadas. Um trem que atravessa o país, mostrando aos passageiros a mistura de cores das paisagens pelas janelas. É esse trem que o poeta Manuel Bandeira descreve no poema Trem de Ferro, um clássico da cultura brasileira. A obra foi selecionada pela curadoria do Clube Quindim para este mês, em uma edição ilustrada por Gian Calvi, e certamente vai fascinar os pequenos com suas imagens e com a sonoridade dos versos criados por Bandeira.

Nascido em Recife em 1886, o poeta foi um dos principais nomes do movimento modernista brasileiro, tanto que seu poema Os Sapos abriu a Semana de Arte Moderna de 1922. Sua poesia é simples e direta, retrata características da cultura brasileira e a busca pela alegria de viver – Bandeira era tuberculoso e, portanto, lidava com a perspectiva constante da morte. Era, ainda, crítico, professor e tradutor, tendo sido eleito para a Academia Brasileira de Letras.

Seu poema Trem de Ferro foi publicado pela primeira vez em 1936, no livro Estrela da manhã. Ele narra, de forma coloquial, cenas vistas da janela de um trem da época, e tem um ritmo e uma musicalidade que realmente nos transportam para uma viagem de trem. Não à toa a obra foi musicada por dois grandes nomes da música nacional: Villa-Lobos e Antônio Carlos Jobim. Mas não foram só eles que se encantaram por esse símbolo: se olharmos atentamente para nosso repertório musical, há muitos trens marcantes.

O trem no imaginário brasileiro

Da clássica maria-fumaça aos modernos metrôs, o trem parece permear nosso imaginário e despertar fascínio – você já percebeu a reação das crianças diante de um trem? É notável! Na música brasileira não é diferente. O trem está bem paulistano no icônico Trem das Onze, do sambista Adoniran Barbosa, observando paisagens, chegadas e partidas em Trem das Sete, de Raul Seixas, e ainda carregado de esperança, amor e verdade em O Trem, de Gonzaguinha.

Na realidade do país, entretanto, o trem não é tão presente quanto poderia. O Brasil tem cerca de 30 mil quilômetros de extensão de malha ferroviária -– a título de comparação, a Rússia tem 87 mil quilômetros e a China 86 mil. Até os anos 1950, o trem era visto como um ícone para o transporte de carga pelo território nacional. No entanto, a partir desse período, passou-se a dar ênfase ao desenvolvimento rodoviário no país, principalmente pelo desejo de gerar uma expansão econômica rápida naquela década. Hoje, 65% do transporte de cargas é feito por caminhões, ainda que a capacidade dos vagões de trens seja maior.

De qualquer forma, em muitas cidades brasileiras, é possível ver trens cruzando morros, pastos e cidades, e até levar os pequenos para um passeio de maria-fumaça. É uma experiência encantadora que certamente ficará na lembrança.

Interpretação dos alunos da escola Chave do Saber para a obra que o Quindim entregará em outubro, Trem de Ferro, de Manuel Bandeira.
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