Chegou a hora: finalmente os pequenos de 6 meses até 2 anos podem ser vacinados contra a Covid-19. Enquanto a grande maioria da população já caminha para as doses de reforço – alguns até com a vacina bivalente que protege contra a cepa original e as subvariantes da ômicron –, os bebês eram a única faixa etária ainda não imunizada, o que os deixava mais vulneráveis a contrair a doença e suas complicações.
Por isso, os pais que aguardavam ansiosamente para vacinar seus pequenos puderam, enfim, respirar aliviados. Em setembro, a Anvisa aprovou o uso da vacina Comirnaty para esta idade (batizada, nessa dosagem menor, como Pfizer Baby), e em outubro, o Ministério da Saúde disponibilizou um primeiro lote com 1 milhão de vacinas para as Unidades Básicas de Saúde (UBS) do país todo.
Assim como nas outras idades, primeiro foram convocados aqueles com comorbidades (imunossuprimidos e com deficiência permanente) que puderam se vacinar em novembro. Já os bebês sem comorbidade seguem aguardando, uma vez que a liberação geral ainda está tramitando em uma consulta pública iniciada em 6 de dezembro.
Para não atrasar ainda mais e desperdiçar as vacinas já recebidas, alguns estados estão realizando a chamada “xepinha”, onde crianças sem comorbidades podem se cadastrar numa lista e serem vacinadas, caso sobrem doses no dia. E, por enquanto, a vacinação dos bebês segue em ritmo lento. Através do Vacinômetro do Ministério da Saúde, é possível conferir que apenas 57.824 doses foram aplicadas até 7 de dezembro na faixa dos 6 meses aos 2 anos.
Novo aumento dos casos
Enquanto alguns pais correm para os postos, outros ainda estão se questionando se devem ou não imunizar os seus filhos. Claro que é natural ter dúvidas sobre uma vacina recente – e nós do clube de assinatura Quindim estamos aqui para ajudar a saná-las –, mas é preciso ter em mente que, além da análise técnica da Anvisa, há também estudos no mundo todo que comprovam a eficácia da imunização infantil contra o coronavírus. E o que se vê na prática nos países que já aplicam a vacina da Covid em crianças também comprova a sua segurança: nos EUA, por exemplo, desde julho, 1,3 milhão de bebês desta faixa já foram vacinados sem complicações ou óbitos relacionados ao imunizante.
Outro fator a se considerar é o aumento dos números de casos no Brasil, desde o início de novembro. No dia 2 de dezembro, por exemplo, o país registrou 45.682 novos casos em 24 horas, segundo o painel de monitoramento do Ministério da Saúde. Ou seja, o vírus está circulando com força nas ruas e, sem a vacina, os pequenos correm um risco maior – e desnecessário.
“É uma doença grave que pode acometer as crianças pequenininhas, que estão mais vulneráveis. Nós já temos dados que mostram a segurança e eficácia das vacinas em crianças, por isso, não esperem mais, vacinem seus filhos”, orienta a imunologista Ana Karolina Barreto Marinho, membro do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) e coordenadora do ambulatório de vacinas do Hospital das Clínicas.
Só para se ter uma ideia, em 2022, já são mais de 13 mil hospitalizações em crianças menores de 5 anos e 480 óbitos pela doença nessa faixa etária, segundo o Ministério da Saúde. Sim, é grave, mas pode ser evitado, uma vez que a vacina é justamente indicada para conter os casos de internação e morte.
“Não é justo pras crianças pequenas ficarem expostas a um risco que os próprios adultos não estão sofrendo mais. Por que fazer isso com seu filho? Algumas pessoas dão ouvidos a informações vindas de fontes duvidosas em vez de escutar quem estudou sobre o assunto”, argumenta o pediatra Ricardo Queiroz Gurgel, membro do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Ele ainda ressalta que a queda da cobertura vacinal de outras doenças está justamente ligada a essa hesitação dos pais, ao aumento das fake news e ao fortalecimento do movimento antivacina no mundo todo, como já falamos por aqui.
Por isso, é hora de agir! A seguir, buscamos especialistas para ajudar a sanar as principais dúvidas sobre a imunização em bebês, o porquê da vacina infantil contra a Covid-19 ser segura, os principais efeitos adversos e qual o esquema vacinal para o seu pequeno. Leia tudo com atenção e boa ida ao posto!
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1 – A vacina da covid é mesmo segura para bebês?
Sim, a despeito das fake news e dos temores propagados pelo movimento antivacina, todos os estudos feitos até o momento garantem que a vacina contra a Covid-19 é segura para todas as faixas etárias, incluindo os bebês. E, apesar de parecer que demorou para chegar a vez dos pequeninos, os especialistas apontam que o tempo para a liberação do imunizante para esta faixa etária foi dentro do esperado, já que é preciso ter estudos robustos para que uma vacina possa ser aprovada e usada.
“Habitualmente, os estudos começam em adultos e seguem para as populações especiais, como idosos, crianças, gestantes e depois bebês, grupo em que as análises são feitas de forma bem cuidadosa”, explica a infectopediatra Maria Claudia Luz, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e da Sociedade Baiana de Pediatria (SOBAPE).
Ou seja, não se trata de uma vacina experimental. Para a liberação, a Anvisa contou com a análise de especialistas da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). “Além disso, temos milhões de crianças que já foram vacinadas em outros países e isso nos deixa confortáveis, porque já temos números que nos dão segurança em relação aos efeitos colaterais e também nos mostraram o benefício da vacina para essa faixa etária. Não tem justificativa pra gente ficar esperando”, indica Ana Karolina.
2 – Por que meu bebê tem que tomar a vacina se crianças pegam menos covid?
A imunologista Ana Karolina, coordenadora do ambulatório de vacinas do Hospital das Clínicas, é enfática: “É falsa a percepção de que Covid não é grave em criança. A gente já aprendeu, desde o ano passado, que temos que nos preocupar, sim, com os pequenos e os números nos mostram isso. Principalmente em crianças com menos de dois anos de idade, a Covid pode levar a hospitalizações e infelizmente até ao óbito”.
E ela tem razão: de acordo com a nota técnica do Ministério da Saúde, publicada em outubro, foram registrados 1.465 óbitos por Covid-19 em crianças menores de 2 anos de idade, e cerca de 25.342 mil internações decorrentes do coronavírus, desde o início da pandemia no Brasil.
Outra ideia errônea esclarecida pela imunologista é o argumento de que é “melhor pegar a doença e ficar logo imune”. Não é bem assim. “Não dá pra controlar o que o vírus vai causar e como será a sua evolução. A gente não sabe quanto tempo a imunidade da doença permanece e estudos nos mostram que há uma diferença clara entre quem pegou Covid pós-vacina e quem contraiu sem estar imunizado. Quem não é vacinado, tem um quadro muito mais grave do que quem tomou a vacina” diz ela e ressalta: “Além disso, temos que nos preocupar com a chamada Covid longa, já que não sabemos quais serão os efeitos disso na saúde das crianças no futuro”.
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A infectopediatra Maria Claudia concorda: “Ficou uma ideia errada de que Covid em criança é sempre tranquilo e o que nós vemos nos hospitais não é nada disso. Já ouvi: ‘Ah, doutora, mas foram poucas mortes’, mas são mortes que poderiam não ter acontecido. E, para cada uma dessas famílias, um óbito já é o bastante”.
3 – A vacina sobrecarrega o sistema imune do bebê?
Levando em consideração que a maioria das vacinas é dada no primeiro ano de vida, os pais podem ficar tranquilos, pois, assim como as outras doses do calendário infantil, o imunizante da Covid não causa nenhum dano ou sobrecarga à saúde do bebê. Pelo contrário, vem só para somar na proteção.
Ricardo, pediatra da SBP, explica que depois do terceiro mês de vida, o bebê já possui um sistema imune mais robusto e pronto para responder a alguns antígenos. “Outras vacinas usaram a mesma técnica (entenda no box abaixo) e exatamente por isso que este imunizante contra o coronavírus saiu rápido, porque não foi criada agora, já se tem experiência com ela”, diz ele e completa: “A infância sempre foi protegida justamente como a faixa etária prioritária para receber as vacinas. Não se justifica mais a demora e a resistência que está havendo em imunizar crianças para a Covid”.
4 – É verdade que dá mais reação nos bebês do que nos adultos?
Não. Segundo os médicos entrevistados, as reações comuns costumam ser as mesmas observadas em outras vacinas e em outras idades: dor no local da aplicação, febre, inapetência e indisposição por até 48 horas. Os pais já estão acostumados e sabem que costuma passar.
Mas e o tão comentado risco de miocardite (inflamação cardíaca) causado pela vacina? “Não são quadros frequentes em crianças. Além do mais, a própria Covid pode levar a miocardite e com possibilidade de uma evolução mais desfavorável”, diz Maria Claudia e o pediatra Ricardo pontua: “É 100 vezes maior a chance da pessoa ter miocardite pela doença do que pela vacina”.
Em suma, os efeitos adversos são leves e, nos raros casos que apresentem reações mais importantes, costumam ser manejáveis, enquanto que a própria doença é mais imprevisível e pode causar a morte. “Nós não temos óbito pela vacina na pediatria, mas nós temos óbito pelo vírus”, pontua a infectopediatra.
5 – Bebês que são amamentados por mães imunizadas precisam ser vacinados?
Sim, precisam. A gente explica: apesar de já ter sido comprovado por estudos – um deles conduzido no Brasil pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP – que a mãe pode transmitir anticorpos para a Covid-19 para os bebês através do leite materno, não é possível assegurar que será o bastante para protegê-lo de ser infectado. “Não temos nenhuma garantia se a quantidade de anticorpos passados na amamentação são níveis protetores de fato para doença. Obviamente que o aleitamento materno é superindicado, mas diante de uma doença como essa, onde temos desde quadros assintomáticos a gravíssimos, eu não vejo porque corrermos o risco de não vacinar os bebês”, diz Maria Claudia.
6 – Bebês que não estiverem vacinados correm mais risco de pegar doenças relacionadas ao covid?
Sim. O vírus Sars-CoV-2, causador da covid-19, pode ser um agente importante de outras doenças conhecidas dos pediatras, como bronquiolite, pneumonia e a tão comentada Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), uma complicação da infecção pelo vírus, caracterizada por uma resposta inflamatória tardia. Segundo o Boletim Epidemiológico do MS, dos 1.940 casos confirmados da SIM-P associada à Covid até novembro,133 resultaram em óbito – destes, 65 foram de crianças com menos de 4 anos.
“Historicamente, um dos principais vírus que causam a bronquiolite é o vírus sincicial respiratório, mas nós temos visto agora que alguns bebês chegam à bronquiolite pelo vírus Sars-CoV-2, assim como a pneumonia viral pela Covid e a laringite por Covid. É aquele bebê que fica com dificuldade para respirar, fazendo estridor, e é uma doença que muitas vezes precisa de internação, oxigênio e sonda para alimentação”, conta Maria Claudia, que ainda alerta para que pais e cuidadores reforcem as medidas protocolares em caso de qualquer sintoma da doença.
“Se um pai ou uma mãe começou a corizar, tossir ou apresentar um quadro sintomático, o ideal é que fique com máscara e lave sempre as mãos antes de pegar o bebê. Além disso, a vacinação dos pais é muito importante e não só para a covid. É preciso um ‘cinturão’ em volta desse bebê. O pai, a mãe, a avó, a babá, todo mundo deve estar com sua carteirinha atualizada”, diz a infectopediatra.
É preciso ainda citar a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), já que, de acordo com os dados do Ministério da Saúde, a incidência da doença nas crianças é significativa. Somente em 2022, foram 13.578 hospitalizações de SRAG por Covid-19, com 486 mortes confirmadas em crianças de até 5 anos de idade.
7 – Posso vacinar bebês que estejam com sintomas de Covid?
A infectopediatra Maria Claudia explica que, na suspeita de sintomas – como febre, tosse, obstrução nasal, coriza, prostração, desconforto respiratório e até diarreia e vômito –, é melhor a família procurar um pediatra e postergar a ida ao posto até saber exatamente o que a criança tem. “Caso seja positivo pra Covid, nós aguardamos quatro semanas para fazer a imunização. E, sim, é preciso vacinar mesmo quem já pegou para garantir uma imunidade mais robusta”, diz ela.
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Entenda o esquema vacinal dos bebês
A vacina autorizada pela Anvisa no Brasil para a faixa etária dos seis meses aos 2 anos é a da Pfizer. “Ela usa a plataforma de RNA mensageiro (mRNA) que é a mesma que foi usada pras crianças mais velhas, adolescentes e adultos. A diferença é que a quantidade de microgramas dessa proteína, que é o que vai induzir a resposta imunológica, é menor do que a utilizada para as outras faixas etárias”, explica a imunologista Ana Karolina. Para diferenciá-la, o frasco da Pfizer baby tem tampa de cor vinho.
E, para quem está se perguntando se a vacina dos bebês já é bivalente, a resposta é não. “Ela é feita a partir da cepa original. As bivalentes vieram para completar a proteção, mas todos os imunizantes que temos atualmente continuam funcionando para evitar os casos graves. Nesse momento, as crianças precisam receber a série primária e, mais pra frente, vamos avaliar se serão necessários reforços com vacinas bivalentes”, pontua Ana Karolina. Nos EUA, a Pfizer solicitou, no começo de dezembro, a autorização do imunizante bivalente para a faixa dos 6 meses aos 4 anos e agora aguarda a validação do Food and Drug Administration (FDA).
Veja a seguir como fica o esquema vacinal dos bebês e crianças no Brasil:
- Crianças de 6 meses a 2 anos e 11 meses
Qual tomar? – Pfizer Baby.
Doses – São 3 doses, com intervalo de 4 semanas entre as 2 primeiras e de 8 semanas entre a segunda e a terceira.
- Crianças de 3 e 4 anos
Qual tomar? – CoronaVac
Doses – São 2 doses, com intervalo de 28 dias.
- Crianças de 5 anos a 11 anos
Qual tomar? – Pfizer Pediátrica ou CoronaVac
Doses – São 2 doses, com intervalo de 21 dias. A Anvisa liberou a terceira dose da Pfizer para ser aplicada seis meses após a segunda dose, mas o Ministério da Saúde ainda não se pronunciou sobre quando deve iniciar essa fase da vacinação.
Onde tomar? – Para receber as doses, a criança precisa ir a uma Unidade Básica de Saúde (UBS) acompanhada dos pais ou responsáveis, levar seu cartão de vacina e um documento de identificação.
Precisa de pedido médico? – Por enquanto, para os pequenos de 6 meses a 2 anos, é preciso o relatório médico ou laudo comprovando a comorbidade. A partir do momento em que for liberado para todas as crianças, a necessidade do encaminhamento médico é suspensa.
Ah! E se você quiser aproveitar a ida ao posto para atualizar a carteirinha do seu filho ou a sua, tudo bem, tá? O Ministério da Saúde, em nota, incentiva as vacinas concomitantes. “Estamos com a cobertura vacinal muito defasada e com problemas inclusive de ressurgimento de doenças já erradicadas, então é muito importante aproveitar as idas aos postos para atualizar o que estiver em atraso”, indica a infectopediatra Maria Claudia.