O surgimento do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é mais comum na vida adulta e na adolescência, mas pode ocorrer também na infância. De acordo com estudo feito pelo Centro de Pesquisas Infantis Bradley Hasbro, os sintomas do TOC em crianças podem surgir a partir dos 4 anos de idade. Na infância, o quadro clínico do transtorno é semelhante ao do adulto, e as crianças tentam ocultar suas manifestações. Além de prejudicar o aprendizado e os relacionamentos, o TOC pode se tornar uma doença limitante.
Para auxiliar na minimização dos sintomas, os pais podem, além dos tratamentos propostos por um profissional da saúde, introduzir a leitura em família e estabelecer rotinas para o alívio da ansiedade que potencializa o transtorno. “É essencial que a abordagem seja cuidadosa, considerando tanto os aspectos clínicos da condição quanto as particularidades do desenvolvimento infantil e o ambiente social e educacional em que a criança está inserida”, explica o psiquiatra Lucas Benevides, professor de Centro Universitário de Brasília (CEUB).
O TOC na infância pode ou não estar relacionado à herança genética. Os pequenos podem ter obsessões de conteúdo agressivo, medo irracional de separação, preocupação excessiva em causar ferimentos, entre outros. “Quanto às compulsões, elas podem envolver alinhamento e simetria, repetições, acumulação compulsiva e tiques. Esse transtorno em crianças apresenta-se ainda, frequentemente, com padrões de pensamentos intrusivos e comportamentos repetitivos que ela se sente compelida a realizar.”
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Quais são os sintomas do TOC em crianças e como identificar?
É importante diferenciar o Transtorno Obsessivo Compulsivo de manias ou comportamentos típicos da infância. As crianças têm rotinas e preferências específicas, mas o transtorno se distingue pela intensidade da ansiedade associada aos pensamentos e comportamentos, ou seja, pelo impacto significativo na vida diária. “A identificação pode ser desafiadora, pois as crianças tentam esconder seus sintomas por vergonha ou medo de não serem compreendidas”, afirma o psiquiatra.
As obsessões podem incluir pensamentos, imagens ou impulsos recorrentes que são invasivos e causam angústia. E as compulsões são comportamentos ou rituais mentais que a criança se sente obrigada a realizar para reduzir a ansiedade relacionada às obsessões ou prevenir algum evento temido – como qualquer ritual diário de higiene, repetitivo e exagerado, a exemplo de lavar as mãos, escovar dentes, tomar banho, além da repetição de ações, como escrever a mesma palavra ou texto, ler a mesma revista, jornal ou livro, e as checagens compulsivas.
Quais especialistas podem realizar o diagnóstico?
O diagnóstico do TOC em crianças deve ser feito por especialistas no desenvolvimento e comportamento infantil, como psiquiatras infantis, psicólogos clínicos especializados em terapia infantil e neuropsicólogos. “Esses profissionais realizarão uma avaliação abrangente, que pode incluir entrevistas com a criança e a família, questionários e, em alguns casos, testes psicológicos”, enfatiza Lucas.
Segundo o psiquiatra, o tratamento do TOC em crianças varia a depender do quadro clínico e pode incluir Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), especialmente a terapia de exposição e prevenção de resposta, considerada o padrão-ouro no tratamento do transtorno, e medicamentos podem ser prescritos para ajudar a gerenciar os sintomas, particularmente em casos mais graves. “Além dessas abordagens feitas por profissionais, o suporte familiar é essencial, uma vez que o envolvimento dos responsáveis nas estratégias de tratamento e educação sobre a condição trazem impactos positivos.”
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Além de atividades e brincadeiras, a leitura também pode ajudar
É possível auxiliar no alívio dos sintomas em casa. É importante estimular que a criança elabore os sintomas, lembrando-a de que é um transtorno e ela não tem culpa pelo que sente e pensa. Também, recomenda-se evitar piadas ou brincadeiras em relação à condição e ouvir a criança, acolhendo seus medos. A empatia é essencial, mas não se deve reforçar os rituais e as evitações desencadeadas pelo TOC, como não falar palavras e frases a pedido dos filhos ou também praticar suas repetições.
De acordo com a Escola da Inteligência – Educação Socioemocional, é recomendável conversar com a criança para definir ações que possam ser realizadas antes ou durante situações que costumam desencadear episódios de ansiedade, como a leitura de livros variados e atividades de pintura ou desenho. Pode-se ainda incentivar o bom humor na relação com a criança, já que a descontração e a alegria podem reduzir o estresse e a ansiedade. Isso pode ser feito por meio de atividades divertidas, ao ar livre ou dentro de casa, como a contação de anedotas, contação de histórias e leitura de livros engraçados.
Aqui na Revista Quindim, você encontra várias dicas de livros infantis para ler em família e que podem ajudar a descontrair as crianças! Os livros com histórias engraçadas podem ser os mais atrativos para os pequenos nesse momento, mas vale a pena conhecer também livros para conversar sobre capacitismo com as crianças ou ainda livros para estimular a empatia.
Diante de uma crise de ansiedade, é importante manter o controle da situação. Falar suavemente palavras positivas e orientar o pequeno a respirar pausadamente até se acalmar. A respiração coordenada ajuda a diminuir a frequência cardíaca e a mudar o foco da atenção, por exemplo, para manter o ritmo de cada inspiração e expiração.
Como a escola pode auxiliar no tratamento?
Os sintomas do TOC podem consumir muito tempo, tornando mais difícil a concentração nas atividades escolares e o cumprimento das tarefas. Os pensamentos obsessivos frequentes podem distrair a criança durante a aula, dificultando a absorção de informações e a participação nas aulas, e ainda prejudicando o relacionamento com colegas. Uma criança com o transtorno pode, por exemplo, verificar repetidamente a mochila ou a tarefa e, assim, se atrasar na sala de aula e ter dificuldade em concluir as tarefas escolares dentro do prazo. Em casos graves, o pequeno pode não querer ir para a escola como forma de evitar situações que desencadeiam seus sintomas, como interações sociais ou exposição a sujeira e germes.
Dessa forma, os educadores e a coordenação pedagógica devem ser informados e treinados sobre como lidar com TOC e outras condições psiquiátricas, promovendo um ambiente acolhedor e inclusivo. “As informações devem ser compartilhadas apenas com profissionais envolvidos nos cuidados e no desenvolvimento infantil para apoiar a criança adequadamente. E a abordagem deve ser colaborativa, em conjunto com os pais ou responsáveis para entender as necessidades específicas da criança e como a escola pode prover suporte”, finaliza Lucas Benevides.
Estante Quindim
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