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Pobreza menstrual: descubra o que é e como você pode ajudar a combatê-la

O que é pobreza menstrual

Recentemente pudemos acompanhar na mídia uma série de notícias sobre a pobreza menstrual e como ela afeta gravemente pessoas que menstruam ao redor do mundo todo. São pessoas que se veem impedidas de estudar, trabalhar e se desenvolver plenamente por não terem condições de cuidar da sua menstruação adequadamente.

Neste artigo, vamos falar mais sobre o que caracteriza a pobreza menstrual, quais são as suas consequências e como podemos nos unir para combatê-la.

O que é a pobreza menstrual

De maneira geral, com exceção de situações específicas relacionadas a determinadas condições de saúde, podemos dizer que meninas e mulheres menstruam até a menopausa. Parece simples, e certamente deveria ser tratado com naturalidade, mas esse assunto ainda é visto como tabu, como algo sujo e que deve ser mantido como segredo.

Um estudo desenvolvido pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e pela Unicef aponta que a pobreza menstrual é um fenômeno complexo que envolve muitos fatores. Dentre os principais, podemos citar:

Diante disso, fica fácil perceber como as causas da pobreza menstrual estão diretamente relacionadas às condições de vida, saúde e educação das pessoas. Ou seja, a desigualdade social está totalmente associada ao problema, visto que pessoas que não têm recursos para comprar itens básicos de higiene são as mesmas com mais dificuldade no acesso à informação verdadeira e de qualidade.

Veja também: O que é relacionamento abusivo? Quais são os sinais e como ajudar quem está em um

Consequências da pobreza menstrual

Segundo os especialistas, os principais impactos da pobreza menstrual podem ser percebidos na relação das pessoas que menstruam com a sociedade. Isso porque elas deixam de participar de atividades diversas, como ir à escola e trabalhar, e não se envolvem em atividades extracurriculares e de socialização por não terem meios adequados para lidar com seu período menstrual.

Assim, meninas em idade escolar ficam prejudicadas em seus processos de aprendizagem e desenvolvimento, e aquelas que trabalham podem perder seus empregos por conta das faltas relacionadas à menstruação. O ciclo se repete.

As consequências psicológicas do problema também existem, e não são poucas. Por ser tratado como tabu, o assunto gera desinformação e uma série de riscos à saúde de meninas e mulheres, que não sabem como funciona seu próprio corpo e, consequentemente, estão mais expostas a doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada.

O relatório da Unicef afirma que não ter como passar pelo período menstrual de maneira tranquila, ou seja, com itens de higiene, medicamentos, suporte médico se necessário, entre outros, põe em risco a saúde, o bem-estar, o desenvolvimento e as oportunidades das pessoas que menstruam.

O sono fica comprometido pelo medo do sangue vazar, atividades de lazer e socialização, além de compromissos escolares e profissionais são abandonados, bem como atividades físicas e esportivas.

A pobreza menstrual tem consequências, também, para a saúde íntima. Além de alergias e irritação na pele e nas mucosas pelo uso de materiais inadequados na tentativa de conter o fluxo sanguíneo, como pedaços de tecido, folhas de árvores, miolo de pão e jornal, podem ocorrer infecções como cistite e candidíase, que afetam o aparelho urogenital.

Há, inclusive, uma condição muito séria e que pode levar à morte chamada Síndrome do Choque Tóxico. Essa é uma infecção bacteriana que pode ocorrer em diferentes situações, mas que está muito associada ao uso de absorventes internos do tipo tampão por longos períodos de tempo.

No caso da pobreza menstrual, essa síndrome pode ser desencadeada pelo uso de um mesmo absorvente por mais tempo para economizar, já que é tão difícil para tantas pessoas conseguirem comprar esse tipo de produto em quantidade suficiente para os ciclos todos os meses.

A pobreza menstrual no Brasil

O estudo da Unicef e do UNFPA traz dados impressionantes sobre a pobreza menstrual no Brasil. Cerca de 4 milhões de pessoas que menstruam não têm acesso a itens imprescindíveis para esses cuidados, como absorventes, sabonetes e até mesmo banheiros. Isso faz que uma em cada quatro meninas deixem de ir à escola durante a menstruação por não terem como conter o sangramento adequadamente durante as aulas.

Em 2015, uma pesquisa do IBGE sobre Saúde Escolar indicou que mais de 200 mil meninas não possuem banheiros em condições adequadas de uso na escola. Ou seja, são cabines sem tranca e muitas vezes sem porta, falta de papel higiênico, água e sabão, ausência de absorventes para troca e lixeira adequada para coleta de resíduos.

Em 2021, na pesquisa feita pela UNFPA, os resultados mostram que mais de 700 mil pessoas não têm acesso a banheiro ou chuveiro em casa. A situação se agravou ainda mais, e os desafios para combater esse problema passam diretamente pelo acesso à água potável e ao tratamento de esgoto, além de investimentos em políticas públicas de investimento na estrutura das escolas.

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Como combater a pobreza menstrual?

Como dissemos, a pobreza menstrual é um problema que requer políticas públicas, mas cada um de nós pode fazer algo para transformar a realidade de pessoas que menstruam. Confira a seguir uma série de ações e descubra como você pode contribuir.

A educação, como sempre, é o principal caminho para eliminar de vez a pobreza menstrual e todo tabu e constrangimento sobre essa que é uma condição natural de uma parcela significativa da população.

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Homens trans também menstruam

Durante boa parte deste artigo falamos de meninas e mulheres que menstruam e sofrem com a pobreza menstrual, mas precisamos ressaltar que homens trans também menstruam

A pessoa trans é aquela com uma identidade de gênero diferente da que lhe foi atribuída no nascimento, então é perfeitamente possível encontrar um homem trans que menstrua porque seu processo de transição não incluiu a remoção do útero.

Por ser um processo único, individual e muito particular para cada pessoa, para alguns o caminho será o de escolher o nome social e fazer terapia hormonal, enquanto, para outros, podem ser feitas algumas cirurgias para que o corpo reflita a identidade da pessoa. Essas escolhas e definições cabem somente à pessoa em transição, ninguém mais.

Fundamental mesmo é compreender que todas as pessoas precisam ter fácil acesso a produtos de higiene menstrual, pois, assim como educação e informação, esse é um dos direitos humanos básicos.

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