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Brincadeiras para crianças autistas: descubra sua importância e sugestões de atividades

Brincadeiras para criancas autistas descubra sua importancia e sugestoes de atividades capa

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) atinge de 1% a 2% da população mundial e, no Brasil, aproximadamente dois milhões de pessoas vivem com o diagnóstico. O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que se manifesta desde cedo, no qual a criança pode apresentar dificuldades na comunicação e interação social. Porém, além do tratamento médico, atividades e brincadeiras para crianças autistas desempenham um papel fundamental para o desenvolvimento social, ajudam a criar mecanismos de comunicação e reduzem comportamentos repetitivos.

De acordo com Adélia Henriques Souza, neurologista e membro da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil, todas as atividades lúdicas podem ser utilizadas como instrumentos que potencializam o processo de aprendizagem e interação social. “Ao brincar, a aprendizagem acontece de forma mais rápida, uma vez que a criança se sente motivada a realizar novos desafios”, explica. Mas, para escolher a brincadeira mais adequada, é necessário levar em consideração o quadro clínico do paciente autista e suas comorbidades, além da condição social da família, e a disponibilidade e o engajamento dos pais.

As brincadeiras precisam contemplar comunicação, interação social, imaginação, faz de conta e aquisição de vocabulário. Assim, não é recomendável deixar a criança sozinha com uma tela. A criatividade é a principal aliada para manter a criança atenta às atividades e quaisquer jogos lúdicos podem ser utilizados.

Quais brincadeiras para crianças autistas podem ser incorporadas em casa?

O mais importante é o contato com a criança e a incorporação dela nas atividades da rotina e da vida diária. “Os pais têm que oferecer bons modelos para serem repetidos. Portanto, toda brincadeira será bem-vinda, desde que seja estruturada e com função”, pontua. Em geral, a experimentação é necessária para o adulto e a criança descobrirem juntos quais são as melhores atividades para ela. O autismo apresenta diferentes graus (do leve ao severo) e cada pessoa com espectro autista tem sua própria personalidade e suas características individuais. Sendo assim, conhecer as preferências e os interesses da criança também é importante para criar atividades que sejam motivadoras e prazerosas.

Ao oferecer brincadeiras para crianças autistas, é essencial lembrar ainda que elas podem ter dificuldades em lidar com estímulos sensoriais intensos, como luzes, sons e texturas, então a experimentação deve acontecer aos poucos, com novidades sendo apresentadas calmamente. Vale contar histórias; desenhar; brincar de pintura (com as mãos e até os pés!); desenvolver atividades com massinha de modelar; apresentar jogos como quebra-cabeça e jogo da memória; simular um teatro com fantoches ou até chamar outras pessoas da família para atuar, contando uma história que envolva a criança e apresentando novos elementos a ela.  

O pequeno pode ainda se vestir de algum personagem favorito e, assim, contar aos outros por que o escolheu, as características do personagem e sua história. Há também a possibilidade de realizar passeios ao ar livre, na natureza, em que o adulto possa mostrar e ensinar os nomes de parques, plantas, insetos e diferentes animais.

Veja também: Hiperatividade: o que é e como lidar com esse transtorno?

Brincadeira é coisa séria!

Muito mais do que um simples brinquedo, o Lego – os famosos blocos coloridos de montar – se mostraram cientificamente importantes para o desenvolvimento de crianças com autismo. No começo dos anos 2000, o neuropsicólogo Dan Legoff iniciou, em seu consultório, uma pesquisa que envolvia crianças autistas brincando com peças de Lego. Depois de observar duas crianças montarem as peças de forma espontânea e interagirem no seu consultório, Legoff passou a aplicar o Lego como terapia, com a condição de que as crianças fizessem a atividade juntas e não sozinhas. Após certo tempo, a brincadeira se revelou muito eficaz!

De acordo com o pesquisador, a brincadeira se mostra como um tipo de desafio que leva tempo, demanda concentração e estimula no pequeno a sensação de realização, quando termina de montar algo – pontos que são relevantes para o aprendizado e desenvolvimento infantil.

Quais atividades podem ser aplicadas na escola?

Segunda Adélia Henriques Souza, as brincadeiras fora de casa também dependem do quadro clínico e da personalidade do pequeno. “Caso a criança seja verbal e comunicativa, ela segue no currículo oferecido pela instituição e algumas adaptações podem ser feitas para apenas sanar os seus ‘incômodos’, visando conforto. Para as crianças com TEA mais grave, o currículo deve ser adaptado, oferecendo, inclusive, um atendente terapêutico (AT), para mediar e facilitar a interação social e aprendizagem”, afirma. Segundo a neurologista, os pais devem sempre se atentar para mudanças comportamentais, mesmo que sutis, após as diferentes atividades escolares e suas progressões.

A escola deve sempre tentar aproximar os demais alunos e não isolar a criança. Parte importante da interação escolar, não há restrições para crianças com autismo praticarem qualquer tipo de atividade física – são práticas recomendadas. Porém, em alguns casos, o excesso de barulho, como em esportes coletivos, pode ser estressante. Se for o caso, vale buscar adaptar para grupos menores. 

Veja também: Seu filho vai mal na escola? Veja 7 razões e como lidar com elas.

Quais sinais devem ser observados pelos pais para a identificação do autismo? E quais profissionais procurar?

Os sintomas aparecem na infância precoce e os pais devem se preocupar quando ocorre atraso de fala, dificuldade em fazer confrontação olho no olho, brincadeiras não funcionais com pouca interação com o entorno, desatenção à voz dos adultos e falta de imitação. “Para o diagnóstico, recomenda-se o médico, podendo ser um neurologista infantil, psiquiatra da infância e adolescência ou pediatra com expertise em neurodesenvolvimento”, enfatiza.

E, para o tratamento, o ideal é o acompanhamento de uma equipe transdisciplinar, de acordo com as necessidades do paciente, podendo ser composta por fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicólogo, psicopedagogo e educador físico. “O acompanhamento sempre dever ser feito pelo médico da criança, de preferência a cada seis meses, para julgar o impacto da reabilitação e ajustes necessários a cada consulta de reavaliação.”

Veja também: TDAH: como lidar com o diagnóstico na infância?

Indicação de leitura

Na HQ “Nori e Eu”, de Sonia Ninomiya, a autora conta suas experiências com a maternidade e a relação com o filho diagnosticado como uma criança do espectro autista. Na segunda parte, é Nori quem narra como foi essa jornada entre o mundo e o que vivia dentro de si. Essa é uma história emocionante para famílias que vivem realidade semelhante à de Nori e Sônia, mas também para famílias e profissionais que desejam uma boa narrativa em HQ ou se aproximar do tema autismo.

Estante Quindim

Conheça obras com personagens autistas ou para falar sobre TEA já selecionadas pelo Clube Quindim:

Nori e eu, de Masanori Ninomiya e Sonia Ninomiya
Olha! Olha!, de Bruna Lubambo
O estranho caso do cachorro morto, de Mark Haddon
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