Pare e pense: quantas vezes você checou a tela do seu smartphone hoje? Com uma série de funcionalidades à mão, que vão desde a possibilidade de se comunicar com quem quiser até pedir comida, ler notícias, pesquisar na internet e ver filmes, os celulares têm se tornado uma companhia fundamental. A realidade para a infância não é diferente: é cada vez mais comum ver crianças brincando com telas eletrônicas em restaurantes, no carro e no transporte público. Tudo isso nos leva a uma pergunta essencial: será que estamos conectados demais? A tecnologia traz benefícios?

Sara DeWitt, vice-presidente da PBS Kids Digital, plataforma de conteúdo para pais e filhos, e autora do TED “Três medos sobre o tempo que as crianças passam nas telinhas”, 40% dos norte-americanos checam o celular nos cinco primeiros minutos em que acordam. Além disso, conferem o smartphone cerca de 50 vezes ao longo do dia. Esse uso excessivo é perigoso: já foi comprovado por inúmeros estudos capaz de causar problemas que vão de danos à visão a complicações ortopédicas, na coluna, por conta de o usuário olhar muito para baixo.

Por outro lado, é impossível negar os benefícios que a tecnologia agrega, especialmente para pautas que antes ganhavam pouco destaque na mídia, sendo a das mães uma delas. Hoje, com o acesso às redes sociais, uma série de mulheres produz conteúdo sobre maternidade real, sobre os estereótipos que recaem sobre a maternidade e sobre feminismo de forma geral. Além disso, a rede conectou ainda mais as mulheres: se antigamente, no pós-parto, as mulheres estavam próximas de suas mães a avós, hoje, por meio de recursos como o WhatsApp podem entrar em grupos de mães e compartilhar angústias a qualquer hora do dia.

Assim, a internet promove maior conexão e maior visibilidade da parte difícil que vem com o ser mãe. Torna mais acessível se preparar de forma realista para a experiência da maternidade e compartilhar as dúvidas e os percalços encontrados no caminho. Claro que tudo isso pode ser mais bem aproveitado com equilíbrio: por um lado, os benefícios da tecnologia são inegáveis, por outro, quando estamos conectados demais podemos prejudicar a saúde e nosso potencial para vivenciar nossas experiências cotidianas, já que nos tira a capacidade de estarmos presentes. Nesse caso, como em muitos outros, o segredo parece ser dosar a quantidade que se usa.

De olho no equilíbrio da tecnologia na infância

E os pequenos? Estão conectados demais? As pesquisas indicam que sim. O documento “Situação Mundial da Infância 2017: Crianças e Adolescentes em um Mundo Digital”, da Unicef, um em cada três usuários da internet é uma criança. Contudo, a recomendação de instituições como a Sociedade Brasileira de Pediatria é de que os pequenos entre 2 e 5 anos passem até uma hora expostos às telas.

O excesso do tempo em interação com tablets e smartphones está relacionado a obesidade, depressão e distúrbios do sono. Uma pesquisa do King’s College, de Londres, entrevistou mais de 125 mil jovens entre 6 e 19 anos, e percebeu que o uso das telas principalmente à noite interfere na qualidade do sono.

A visão fica vulnerável nesse contexto: especialistas dizem que vivemos uma epidemia de miopia, com um aumento global de número de pessoas acometidas pela condição que dificulta enxergar com nitidez objetos distantes. Na Ásia, por exemplo, o problema afeta até 90% dos estudantes do Ensino Médio. Fatores ambientais têm influenciado esse aumento, como a exposição excessiva à luz e o tempo gasto dentro de ambientes fechados, em oposição ao tempo ao ar livre.

Os benefícios da tecnologia na vida dos pequenos são inegáveis. A especialista Sara DeWitt mesmo nos lembra como ela pode ser usada para estimular o desenvolvimento de competências cognitivas e emocionais, especialmente entre crianças com condições como o autismo. É importante, contudo, que variemos as referências dos pequenos. Aprender a estar bem em um ambiente externo, a desenvolver a criatividade dentro de casa e a se atirar às páginas de uma bela leitura são fundamentais para o seu desenvolvimento. Que possamos seguir promovendo uma experiência rica e diversa aos nossos filhos, com todos os tons que compõem a vivência humana. 


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