Shel Silverstein conta uma poética história do vínculo, da infância à velhice, entre a Árvore generosa e o menino.
Acompanhamos o desenvolvimento desse relacionamento em fases. Durante a infância, os dois se encontram diversas vezes, estão sempre presentes um na vida do outro. Nesta parte da história temos mais páginas, menos textos e as ilustrações se destacam demonstrando a complexidade e cumplicidade dessa parceria. Conforme a relação amadurece, os dois se encontram esporadicamente, vivem momentos curtos e o texto escrito é ampliado.
O ritmo que se estabelece entre imagem e texto no início da história proporciona ao leitor a criação de um vínculo forte com a narrativa, se inserindo como terceiro elemento nessa relação, podendo interpretar a história segundo seus sentimentos e experiências. As ilustrações com traços simples, em preto e branco e poucos elementos, contrastam com a capa colorida e verde, reforçando o foco na relação dos dois e a ideia de afastamento e eterna doação.
Assim, teremos diversas camadas de leituras possíveis: o processo natural de amadurecimento e envelhecimento e com ele os papéis sociais e suas responsabilidades que automaticamente desdobram na diminuição da ludicidade da vida, a busca por bens materiais; até mesmo a degradação do meio ambiente, tudo sempre dependendo das vivências de cada leitor. Porém um assunto sempre será notado: o que é a generosidade?
Uma vez que nos importamos com a felicidade do outro, como a árvore demonstra no decorrer da história, podemos perder de vista a nossa própria felicidade, nos doando demais, dando tudo que temos, sem necessariamente ter a reciprocidade do outro lado. Aqui também, podemos extrapolar a interpretação e considerarmos a árvore um espelho da relação de maternidade/paternidade, onde sempre se doa indiscriminadamente, e considera sempre os filhos como eternas crianças.
Um livro para refletirmos sobre nossas relações e o quanto somos recíprocos.