No Dia Internacional do Livro Infantil, Volnei Canônica mostra porque a criança nunca foi e nunca será pequena.

Desde 1967, o International Board on Books for Young People – IBBY apresenta a mensagem do Dia Internacional do Livro Infantil – DILI. A data é comemorada no dia 02 de abril, em homenagem ao nascimento do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, considerado o pai da literatura infantil mundial.

Todos os anos, o IBBY seleciona uma de suas seções nacionais – atualmente são 75 países que fazem parte do IBBY – para patrocinar a mensagem do Dia Internacional do Livro Infantil – DILI. A seção nacional selecionada escolhe um escritor e um ilustrador de seu país para criar a mensagem que será divulgada mundialmente. No Brasil, o IBBY é representado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ.

Em 2018, a seção do IBBY na Letônia, ficou responsável pela mensagem do DILI. Criada em 1993, a Latvijas Bernu un jaunatnes literaturas padome – LBJLP – Conselho de Literatura para Crianças e Jovens da Letônia, em tradução livre, tem como membros diferentes profissionais na área de livros infantis: autores, ilustradores, pesquisadores, críticos, bibliotecários, editores e professores.

A LBJLP convidou a escritora Inese Zandere e o ilustrador Reinis Pēterson para criar essa bela mensagem que mostra que a criança nunca foi e nunca será pequena.

O pequeno é grande num livro

As pessoas são atraídas pelo ritmo e pela regularidade, assim como a energia magnética organiza tiras de metal num experimento de física, assim como um floco de neve cria cristais da água. Num conto de fadas ou poema, as crianças apreciam repetições, refrões e motivos universais porque eles podem ser reconhecidos de uma nova forma a cada vez – eles trazem regularidade ao texto. O mundo ganha assim uma bela ordenação. Eu lembro até hoje como, quando criança, eu me esforçava para trazer justiça e simetria, direitos iguais para a direita e para a esquerda: se fazia uma batida na mesa, contava quantas vezes cada dedo se mexia, para que os outros dedos não se ofendessem. Eu tendia a bater palmas indo da mão direita para a esquerda, mas então pensei que era injusto e aprendi a fazer da maneira oposta, da esquerda para a direita. Esse desejo instintivo pelo equilíbrio é engraçado, claro, mas mostra a necessidade de evitar que o mundo se torne desigual. Eu tinha a sensação de que eu era a responsável pelo equilíbrio de tudo.

A atração das crianças pelos poemas e histórias advém de sua necessidade de trazer regularidade ao caos do mundo. A partir da indeterminação, tudo se orienta em direção à ordem. Cantigas de ninar, cantigas populares, jogos, contos de fadas, poesia… todas essas formas de existência, organizadas de maneira rítmica, ajudam os pequenos a estruturarem sua presença nesse grande caos. Eles criam uma noção instintiva de que a ordem é possível no mundo e de que todo mundo tem seu espaço singular nele. Tudo trabalha para esse objetivo: a organização rítmica do texto, as sequências de letras e a diagramação da página, a impressão do livro como um todo bem estruturado. O grande é revelado no pequeno, e reproduzimos isso nos livros para crianças mesmo se não estamos pensando em Deus ou em fractais. Um livro infantil é uma força milagrosa que incentiva o desejo e a habilidade de ser dos pequenos. O livro incentiva a coragem de viver da criança.

Em um livro, o pequeno é sempre grande, de maneira instantânea, e não apenas quando se chega à vida adulta. Um livro é um mistério no qual algo inesperado pode ser descoberto, ou então algo além de nosso alcance. Aquilo que os leitores de certa idade não conseguem apreender com o raciocínio permanece em sua consciência como uma marca e continua a agir mesmo se não completamente compreendido. Um livro de imagem pode funcionar como um baú do tesouro em conhecimento e cultura até para adultos, assim como crianças podem ler um livro de adulto e encontrar sua própria história, uma pista sobre sua vida em desenvolvimento. O contexto cultural forma as pessoas, ao preparar o terreno para impressões que chegarão no futuro, assim como acontece com as experiências ruins pelas quais as pessoas terão que passar para se manter íntegras.

Um livro infantil significa o respeito pela grandeza do pequeno. Significa um mundo criado de novo a cada vez, uma seriedade bela e brincalhona, sem a qual tudo, incluindo a literatura infantil, é apenas uma ocupação vazia.

Em resumo

O livro faz com que a criança intua que a ordem no mundo é possível e que todos têm um lugar singular nele. Tudo funciona para esse objetivo: a organização rítmica do texto, as sequências de letras, a diagramação da página, a impressão do livro como um todo bem estruturado. O grande é revelado no pequeno e nós reproduzimos isso nos livros infantis. O livro é um mistério no qual algo inesperado pode ser encontrado, ou algo além de nosso alcance. O livro infantil significa respeito pela grandeza do pequeno.

Tradução do inglês: Mariana Elia

Fonte: Jornal Notícias – Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ

Conheça os autores letuânos que criaram a mensagem do DILI

259x189xTul5IqdcXP72D2ysgRafXVmiDYcpLMeQWoGrnHhcFmLxSOCzETxFlBmutwV0NWXBEDTfht9YjtePZSkp.jpg.pagespeed.ic.JK 5Slc0iJ

Inese Zandere – nasceu em Dobele, Letônia, em 1958. Formada em filosofia pela Universidade da Letônia é poeta, escritora, editora. Já trabalhou como pesquisadora, editora e roteirista para diversos jornais, revistas, editoras e estúdios de cinema. Escreveu mais de 30 livros para crianças e jovens e, nos últimos 20 anos, se envolveu em projetos relacionados à literatura infantil e educação.

Reinis Pētersons – nasceu em 1981. Formado no Departamento de Comunicação Visual da Academia de Arte da Letônia é ilustrador e animador gráfico residente em Riga, capital da Letônia. Ao longo de sua carreira, Reinis ilustrou dezenas de livros infantis e jogos de tabuleiro. Atualmente trabalha no estúdio de animação Atom Art e dirigiu Ursus, um curta-metragem animado, vencedor de vários prêmios internacionais. Foi candidato ao Prêmio Hans Christian Andersen em 2014 e ao Prêmio Memorial Astrid Lindgren nos últimos cinco anos.


Volnei Canônica é formado em Comunicação Social – Relações Públicas pela Universidade de Caxias do Sul, com especialização em Literatura Infantil e Juvenil também pela Universidade de Caxias do Sul, e especialização em Literatura, Arte do Pensamento Contemporâneo pela PUC-RJ. É diretor do Centro de Leitura Quindim e ex-diretor de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas, do Ministério da Cultura. Coordenou no Instituto C&A de Desenvolvimento Social o programa Prazer em Ler. Foi assessor na Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Na Secretaria Municipal de Cultura de Caxias do Sul, assessorou a criação do Programa Permanente de Estímulo à Leitura. o Livro Meu. Também foi jurado de vários prêmios literários.

SalvarSalvar

SalvarSalvar

SalvarSalvar

SalvarSalvar

SalvarSalvarSalvarSalvar

SalvarSalvar