Clássico da literatura inglesa, este romance de 1726 é um bom exemplo de como viajam as histórias por diferentes públicos, épocas, formatos e versões. A propósito das aventuras marítimas de um inquieto médico-cirurgião, o Sr. Lemuel Gulliver, a estranhos países distantes, a obra, ao mesmo tempo que faz uma sátira aos livros de viagens fantasiosas, carrega consigo uma crítica mordaz à ambição humana e às instituições políticas, jurídicas, científicas e econômicas: uma crítica que vai diretamente ao ponto de males, injustiças e inconvenientes até hoje sem remédio ou solução.
Sem economizar descrições fantásticas e absurdas, o texto de Jonathan Swift é dividido em quatro partes. A narrativa fora endereçada a adultos, porém as velas abertas à fantasia logo despertariam a atenção de jovens leitores e das crianças. O texto original sofreu uma série de alterações, ora reduzido, ora fragmentado, até mesmo copiado sem o nome do escritor, para que pudesse atender a muita gente interessada no acesso a um livro e à leitura de ficção, tornando essas viagens numa literatura bastante popular ao longo de quase três séculos. O livro converteu-se em álbuns ilustrados, filmes de longa duração, séries de desenho animado etc.
Mas, das histórias em torno do livro para dentro da história, vemos quanto Gulliver tem um gosto incansável pelas aventuras e por desbravar os horizontes de seu próprio conhecimento. Na primeira parte, abandonando o conforto de casa e a esposa Mary, sobrevivendo a um naufrágio, ele chega a Lilliput, um país de minúsculos habitantes; visto como um homem sábio, logo se torna o favorito da corte até que o rei, após hilários incidentes, cobra-lhe o serviço de subjugar a província de Blefuscu. Na segunda viagem, Gulliver é abandonado pela tripulação numa praia e vive apuros numa terra de gigantes chamada Brobdingnag, onde as notícias da política inglesa e ideias do viajante são constantes motivos de riso e piada.
Nesta edição das Viagens de Gulliver, comparecem duas das quatro grandes partidas do médico-aventureiro. Com dezesseis capítulos, o texto consta do Project Gutenberg e provém de uma edição anotada por Thomas M. Balliet, que afirmou ser praticamente uma reimpressão do original, empreendendo, contudo, alguns cortes em passagens que pudessem ofender “os ouvidos modernos” e serem inadequadas para a leitura escolar das crianças. Do livro publicado pela D. C. Heath & Co., cabe dar destaque às artes do pintor e xilogravurista Thomas Morten, feitas em 1866, com finos traços em madeira de topo.