Um olho verde de longas pestanas e sombra azul, a ponta fina do nariz vermelho com um piercing argola de outro com pequenas pedras brilhantes, a tez da cara, da capa, muito branca, um rubor posto da maçã do rosto, uma boca com batom escarlate, a expressão de espanto, a moldura dos cabelos pretos cinza ondulados. O título, o quadro diante dela!
Apenas os elementos deste rosto permite a leitura da história que se deve seguir, porque a capa, a cara da personagem, olha para nós. E onde estamos? Numa galeria de arte, na rua, numa biblioteca com algum quadro especial no meio dos livros?
Há depois um banco vazio dentro de um museu, o vigilante passa pela gente... e depois importantes visitantes, um sheik, uma senhora (será espanhola?) de vestido cor de coral, os seguranças de óculos, gravata e costume preto. Contemplação, indiferença, visão interior, mais caras e bocas de espanto. A diretora explica que aquele quadro diante dos espectadores havia mudado a história da arte moderna.
E o leitor, por enquanto, nada entendendo. Apenas a curiosidade aumentando, pois parece mesmo que nós somos uma estranha obra observada. De fato, já estamos enredados na trama deste álbum ilustrado que arrola nomes de Rembrandt e Picasso, quebrando a quarta parede que comumente separa o expectador real do palco do teatro, da tela da televisão, da narrativa dentro das páginas de um livro... O narrador muitíssimo interativo vai dando informações, pistas, despistes, possibilidades, comentários vários, atenção e liberdade. A chave da leitura da obra de arte está exatamente no seu olhar, em suas mãos!