Um menino acompanha as andanças de seu avô rua afora. Passos largos do avô que seguem sempre a frente e passos pequeninos do menino logo atrás. “Vamos só ali? Não demoramos quase nada, diz o avô ao neto. E o que vocês vão fazer? Pergunta a mãe. Nada de especial, dizemos nós, a porta já a fechar-se, a rua toda pela frente.” O avô para e conversa, o menino salta em poças de água, equilibra-se na beira da calçada, escala montes de areia e caça o galho perfeito que vira espada, bandeira, remo, sempre registrando o rastro do seu trajeto no chão.
Ora, é um caminhar apressado, ora devagarinho que acontece livremente, entretido, realmente enxergando e experimentando o que a cidade e o dia oferecem. Ruas, praças, avenidas, parques, mercados, feira, chuva, sol ou o vento acariciando o rosto, tudo revela alegrias que nem imaginamos existir ou não nos permitimos sentir.
Nesta crônica afetiva de Isabel Minhós Martins com ilustrações de Madalena Matoso, somos convidados a experimentar sem reservas os momentos e as sutilezas da vida, apreciar o que nos cerca e suspirar a todo minuto da nossa existência. Isso é andar por aí. Sem pressa, encontrar velhos amigos, conhecer desconhecidos, acenar para a vizinhança, bater um papo no banco da praça, observar as árvores, os pássaros e as pessoas. Passos largos ou passos pequeninos, tanto faz, desde que não percamos a capacidade de ver e estar no mundo!