São muitas as ilhas do tesouro nos livros, nas histórias em quadrinhos, nos desenhos animados, nos jogos e nos filmes de aventura. Também devem ser muitos os tesouros enterrados pelos quintais e pela memória de jovens crianças, desde que Robert Louis Stevenson compôs sua novela de ação contínua num estilo capa-e-espada, com fogo e bolas de canhão, tumultuando as águas do oceano. Se, em 1883, quando o livro foi publicado, as travessias marítimas já não representavam mais um desafio amedrontador e as linhas férreas foram o extenso empreendimento do século XIX, é certo que havia uma lacuna na imaginação bastante propícia para esconder baús repletos de ouro — e as pessoas apenas precisavam de um mapa para encontrá-los...
De fato, coube a Stevenson a invenção do primeiro mapa do tesouro, assinalando com um X o local onde a busca literária deveria se encerrar. Aqui temos a figura de Jim Hawkins, filho do proprietário de uma pousada, como personagem e o narrador da história que viveu pelos idos de 1700. O menino, em contato com os mais diferentes tipos de gente, vai moldando a sua percepção de mundo e seus valores junto a homens de lustro, um médico atencioso, um aristocrata, seus criados, o desconfiado capitão, marinheiros honestos ou mesquinhos, esbanjadores, corsários e piratas (na verdade, são sempre os mesmos homens, o que os diferencia é somente uma ou outra bandeira que ostentam).
De um lado, está o Capitão Smollett à frente de uma expedição financiada por John Trelawney, em busca da ilha do tesouro, a partir das indicações de um velho lobo do mar que deixou o mapa nas mãos de Jim Hawkins. À bordo de La Hispaniola, no entanto, rumorejam as histórias do Capitão Jonathan Flint, enchendo a tripulação de esperanças e temores. Refazendo esses caminhos líquidos, a obra foi traduzida e adaptada por Rodrigo Machado, dentro da coleção Almanaque dos Clássicos da Literatura Universal que propõe ao leitor de hoje um livro dentro de outro livro, pois não vamos diretamente ao texto de escritores do passado, mas trata de ancorá-los ao contexto de produção da obra, oferecendo um acesso mais descomplicado aos enredos.