Dois irmãos correm apressados através da mata para ver o espetáculo do mergulho do sol no rio, este sol que feito um fruto maduro vai espalhar muito vermelho nas páginas do livro ilustrado por Graça Lima, a partir de um conto de Cristino Wapichana, contemplado com menção honrosa no Concurso FNLIJ/UKA Tamoios para Textos de Escritores Indígenas 2014.
Narrado em primeira pessoa, o conto nos conduz rumo à infância de Kupai, começando, numa tarde, ao lado do irmão Dum, assistindo pela primeira vez o pôr do sol do alto da Pedra do Trovão e as transformações que a luz faz sobre as águas, a vegetação e os horizontes longínquos. Tal impacto sobre o menino revela quão mágico pode ser o pensamento, quando se deseja ver a natureza com simplicidade e espírito animista, animado. O texto, no entanto, mesclará também aspectos do cotidiano familiar, como a obediência aos pais ou o respeito às atividades em horários precisos, ainda que marcados pelo relógio cíclico do céu, a hora da vigília e do sono, a hora do interlúdio ao trazer histórias para a roda da comunidade.
Pois é esse espaço real das dúvidas que cria a aventura de Kupai — ele e o irmão correndo para ver a boca da noite que devora tudo no mundo, assustadoramente, uma boca sem corpo com dentes pontudos e enormes, no meio de nuvens escuras e chuva... Filhos de homens da cidade ou da aldeia, não importa: todas as crianças têm seus medos, anseios, curiosidades.