Candê tem sete anos e vive a imaginar cenas de terror, nas andanças no entorno de sua casa. A todo instante, vê criaturas mortas-vivas que assombram as pessoas. Zumbi é uma assombração medonha, com escamas e olhos de peixe asfixiado, vagando... Eita, Candê! Tio Prabin espanta-se com a confusão e a ignorância do menino, então começa a contar quem foi Zumbi, o rei do Quilombo de Palmares, o caçador das matas, silencioso como uma pena flutuando sem vento, o valente guerreiro, perito em garantir o sustento e defender seu povo.
O escritor Allan da Rosa faz seu texto se aproximar das narrativas orais, ao mesmo tempo, retrata quanto o preconceito ainda perpassa pelos traços fenotípicos, a linguagem e a noção de cultura. Na escola, outras crianças impedem a entrada de Candê nas brincadeiras e o insultam devido a sua cor e seu cabelo. Quando lá se apresenta um grupo de instrumentistas, usando congas, atabaques e cuícas, o show é considerado "coisa de espírito capenga e de assombração". Durante toda a leitura, compartilhamos os ensinamentos da fala mansa de tio Prabin e a força de Manta, a mãe de Candê. Apesar das experiências sofridas pelo pequeno, sobrevirá toda a descoberta de sua ancestralidade e da importância do ícone da resistência negra no Brasil, o Zumbi dos Palmares. Candê entenderá que a sua história se conecta intimamente com a história de Zumbi — na dor, na força e na resistência diária.
Zumbi assombra quem? é uma obra potente que reforça a necessidade de falar sobre a importância de valorizarmos nossas heranças africanas e nos conectarmos com a nossa História, tão repleta de histórias que trazem à tona o racismo em nossa sociedade desde os tempos remotos, frente as características múltiplas de um povo que também demonstra força e beleza a cada dia que renasce.