Geedi é um menino somali de 12 anos que nasceu em Kakuma, o campo de refugiados no Quênia. Não conhece outra realidade, suas referências de vida nasceram também ali, todo seu mundo é Kakuma. Contudo, o menino escuta com atenção o que os mais velhos contam a respeito do país de onde vieram e como sonham em reaver tudo que perderam.
Geedi irá conhecer Deng, um garoto sudanês que vivia com a sua família em um vilarejo antes da guerra assolar o seu país. Veio sozinho, sem parentes, sem saber se alguém sobrevivera. Suas últimas lembranças são a vila pegando fogo, guarda amarguras, sabe que Kakuma não é seu lar e sonha em voltar.
Em uma história a respeito da amizade desses dois meninos, carregando consigo visões distintas de uma mesma realidade, Marie Ange Bordas, utiliza suas vivências no campo de refugiados queniano para trazer à tona as consequências e os horrores da guerra. Ambas as personagens compartilham desejos e inquietações. Estão em busca de um futuro melhor e de um mundo onde todos se entendam de forma pacífica. Para ilustrar o livro, a autora utilizou fotos tiradas por ela de jovens e crianças que participaram de suas oficinas de fotografia na região de Kakuma, flagrando uma rara beleza em meio a tanto sofrimento. São registros raros, capturados pelos olhos daqueles que vivem a realidade do refúgio no seu dia a dia.
Apesar da temática estar com frequência nas notícias de jornal, esta obra nos permite aproximar e sentir as vivências, alegrias e dificuldades dessas crianças e suas famílias, forçadas a abandonar as suas casas, seu próprio país, em busca de sobrevivência. É um livro poderoso que nos toca e nos situa no lugar do outro, diante de uma realidade muito distante de nós que, no entanto, atingiu mais de 79 milhões de pessoas, em 2020, de acordo com dados das Nações Unidas, um número nunca visto na história.