Talvez seja surpreendente, mas a formação leitora pode começar antes mesmo da alfabetização. Crianças estão cercadas de textos por toda a parte e são naturalmente curiosas em relação a eles.
Deixar uma criança brincar com um livro, tocar suas páginas, ver as imagens e sentir o cheiro do papel é oferecer um grande incentivo à formação desse hábito, plantando a semente para que nasça um leitor ávido.
Com os primeiros contatos com as letras e o início do processo de alfabetização, abre-se um mundo de possibilidades pelas combinações entre elas, a formação de palavras e de frases.
O próximo passo, chamado de letramento, consiste em utilizar a habilidade de unir letras para formar sílabas, palavras e frases a serviço da interação social. É com o letramento que a criança passa a compreender textos diversos, interpretá-los e formar ideias sobre eles, tornando-se capaz de argumentar e questionar sobre vários temas.
O que é a formação leitora?
A formação leitora vai muito além de tornar alguém capaz de reconhecer e memorizar letras, uni-las em sílabas, formar palavras e escrever frases, ou seja, vai além da alfabetização por si só. Uma boa formação leitora também não se detém na capacidade de interagir com textos escritos e expressar suas impressões sobre eles.
São muitas as pessoas adultas alfabetizadas e letradas, totalmente capazes de utilizar esses conhecimentos em interações sociais, mas que não exprimem uma visão crítica sobre o mundo à sua volta. As leituras se restringem aos textos do dia a dia, como placas de trânsito, bulas de remédio, contratos de serviço e menus de restaurantes.
A formação leitora consiste no desenvolvimento da habilidade de ler o mundo em suas mais diversas formas, e não apenas como um texto escrito. Está ligada à interpretação de imagens e sons, nas combinações entre eles, nas emoções que provocam e em seu significado.
A formação leitora torna possível compreender as diversas camadas de informação que fazem parte de um filme, uma música, uma fotografia, um quadro e, naturalmente, um livro, e dar sentido a tudo isso.
Essa articulação de saberes contribui diretamente para a formação da criança como um indivíduo e como cidadão, tendo função fundamental na construção de uma sociedade mais justa para todos.
Qual o papel da escola na formação do leitor?
Como já se pode imaginar, a escola é fundamental na formação leitora. Os professores, como mestres que são, guiam as interações dos alunos com o texto e os ajudam a ampliar seus horizontes como um todo. O contato com livros de literatura, em adição àqueles que tratam de português, matemática, física e química, ajudam a criança a descobrir quem é, do que gosta, quais são os seus valores e princípios.
Também é na escola que a criança vai exercitar o pensamento crítico em relação à realidade que a cerca, conhecendo e aprendendo a conviver com colegas que podem compartilhar de outros gostos, interesses e opiniões.
No universo da escola, que tantas vezes é uma pequena representação do que encontramos em maior escala no mundo, a criança desenvolve competências essenciais para interagir em sociedade, se posicionar, fazer escolhas e assumir responsabilidade pelas decisões que toma.
O contato com a leitura regular e o mais diversificada possível é imprescindível para essa construção humana. E, como já dissemos, a leitura aqui não está mais restrita ao texto no papel mas também às imagens (estáticas ou em movimento) e aos sons. É uma leitura de tudo que passa pelos 5 sentidos.
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7 Dicas para A formação leitora
Agora que você já sabe o que é e qual a importância de investir na formação leitora, deve estar imaginando que passos concretos pode dar nessa direção. Para ajudar, separamos algumas dicas que podem fazer toda a diferença no encantamento das crianças pela leitura.
- Ensine pelo exemplo: os pais e cuidadores das crianças, junto aos professores, são suas principais referências. Se você tem hábito de ler todos os dias, mesmo que por poucos minutos, inclua a criança nessa rotina. O mais belo discurso sobre a importância dos livros não servirá de nada se a criança não vir em você um interesse genuíno pela leitura.
- Converse sobre a história: não encerre a leitura, feche o livro e ponto-final. Pergunte para a criança o que ela entendeu do que foi falado, e diga você também o que entendeu. Fale sobre as emoções, como se sentiu durante a leitura, e acolha os sentimentos da criança. Procure não dar sermões ou lições de moral nesse momento e prefira conduzir gentilmente a conversa.
- Não se prenda ao formato do texto nem à faixa etária: existem inúmeros tipos de livros, sobre assuntos diversos, que cada um de nós interpreta a partir de um ponto de vista que é pessoal. O mesmo acontece com as crianças: um único livro pode ser lido de um jeito por um bebê, de outro jeito por uma criança de três anos e outro ainda por um pequeno de oito anos. O mais importante é diversificar a oferta, para enriquecer o repertório da criança (e o seu também).
- Deixe os livros acessíveis para a criança: de que vale um grande acervo, repleto de livros novinhos e maravilhosos, se a criança não pode tocar neles, passar suas páginas, conhecer suas figuras e histórias? Coloque os livros em estantes, caixas e mesas de altura compatível com as crianças que vão acessá-los. Assim, além de estimular a autonomia envolvida na escolha da história, os livros se tornam familiares, e o convívio e interação com eles passa a ser natural.
- Envolva a família e a escola: se você quer incentivar a formação leitora do seu filho, converse com a escola para entender de que maneira é possível estender esse hábito para a prática pedagógica. Por outro lado, se a escola já tem um programa de formação leitora, é fundamental envolver os pais. Assim, ao perceber o compartilhamento de ideais e a constância da leitura nos dois ambientes, as chances de fazer que a criança se interesse definitivamente pela leitura são muito maiores.
- Dê à criança o poder de escolher: o engajamento das crianças na leitura aumenta quando elas se sentem ouvidas. Assim, em vez de apenas apresentar o livro da vez, que tal oferecer algumas opções e fazer uma votação?
- Permita-se emocionar: essa, talvez, seja a dica mais importante. Não é possível contagiar crianças com a paixão pela leitura se você mesmo não acreditar nisso. Crianças são criaturas espertas, que enxergam muito além do que queremos demonstrar. Então, resgate no seu interior o encantamento pelos livros e depois observe como a sua própria empolgação vai fazer a diferença no processo.
A importância da capacitação em formação leitora
Como vimos, uma parte importante da formação leitora envolve a escola e os professores. Assim, nada mais adequado do que pensar em uma formação para esses profissionais enquanto leitores e multiplicadores da paixão pelos livros.
Existem muitos programas de leitura nas escolas que consideram a idade e os interesses dos alunos, a proposta pedagógica da instituição e outros aspectos. Há, também, algumas ações específicas de capacitação docente. O Programa de Formação Leitora da Editora Maralto é uma delas.
Segundo a publisher da Editora, Cristiane Mateus, o programa foi criado no final de 2021 com objetivo de estabelecer diálogos criativos e inteligentes sobre as obras trabalhadas nas escolas. Professores, bibliotecários, mediadores de leitura e, é claro, alunos da educação básica de todo o país passam pela formação que é totalmente centrada no livro.
Segundo Cristiane, o primeiro momento do programa diz respeito à curadoria de obras, que é feita de maneira personalizada e junto aos responsáveis pelos projetos de leitura já existentes dentro da escola. Em seguida, ocorre a implantação do programa, quando a Maralto entende a disponibilidade de tempo e o cronograma das escolas. Por fim, o momento chave: a assessoria literária.
Nessa fase, um especialista em literatura e mediação de leitura ministra cursos sobre cada uma das obras adotadas, promovendo uma conversa intensa sobre diferentes abordagens para o trabalho com o livro em sala de aula.
“Gostamos de dizer que o livro é o coração desse projeto. Não há leitor sem livro. Todo projeto consistente de leitura deve partir de obras desafiadoras. Ainda temos o encontro com a família e com o autor, momentos que ampliam ainda mais o olhar sobre o livro e sobre a leitura como uma prática cotidiana”, explica Cristiane.
Nós, do clube de livros infantis da Quindim, apoiamos e acreditamos na formação leitora como um dos principais pilares para transformar as pessoas, suas vidas e o mundo.