Roger Mello é um dos raros artistas do livro e da literatura para crianças que une os extremos do mundo atual às arqueologias da palavra e da imagem, narrando a grande ventura dos homens em constituírem a História coletiva e suas histórias individuais. É a partir deste comprometimento que o autor nos conduz a um fabuloso labirinto de leituras com os olhos, os ouvidos zunindo, o coração celerado e os pés do menino Zubair.
A cidade de Bagdá estremecia sob o bombardeio e a invasão de tropas anglo-americanas. Durante nove dias, em abril de 2003, ruas, vielas, casas, muros, minaretes, palmeiras, janelas estilhaçadas corriam, fugiam à compreensão de que há uma vida diferente, nada heroica ou igual às realidades mostradas na televisão. A perdas materiais são sempre grandes, a cidade não existia como antes existia, também os amigos e os parentes perderam a vida. Contudo, incontável, a destruição cultural das peças históricas que se tornaram pó ou encontradas, nos escombros da universidade e do museu da biblioteca nacional, tornavam-se alvos dos saqueadores de objetos de arte. Nove dias arrastam fora o tempo ancestral dos acádios, sumérios, assírios e babilônios: o mundo ali perdia seu precioso berço.
Neste cenário, sem ouvir os barulhos da guerra, Zubair carrega um tapete enrolado em seus braços, muito certamente sem avaliar a relíquia que trazia consigo: envolvido no tecido grosso, um livro! As histórias, anedotas, alegorias, adivinhações ali contidas trazem a qualquer leitor a alegria do jogo, da poesia, da trapaça rústica e da transparência de que nada mais existiria do que a invenção da palavra e suas miragens. Em nossa mente.
Com ilustrações e projeto gráfico de Roger Mello, temos aqui um duplo livro-objeto que se apresenta ao leitor, primeiramente, como uma capa que traz o relato da fuga do menino frente aos soldados estrangeiros e também iraquianos. Este livro-caracol se desenrola uma, duas, três vezes como o próprio tapete nas mãos do personagem, escondendo outro livro em seu interior. Encontramos, Zubair e nós mesmos, um livro chamado “Os treze labirintos” cujas páginas são viradas e lidas ao modo oriental da esquerda para direita. E, no final, o jogo e o enigma, o menino conta somente doze labirintos... e nós, quantos nós conhecemos?