O menino brincava na areia quando seus pés foram tocados por uma onda. Aos poucos, ele se aproxima do mar pela beira, nadando na parte mais segura, onde as ondas são pequenas e ainda dá pé. Mesmo com medo, a criança continua seu percurso no mar, imaginando o que pode haver no fundo do desconhecido. De repente, parece sentir que está se afogando e volta para a superfície, respirando em seu lugar seguro. Mas, para tomar coragem e mergulhar ainda mais fundo, ele conta com a ajuda de uma mão amiga.
A obra de Isabel Minhós Martins e Yara Kono pode ser considerada uma grande metáfora da relação entre livros e leitores. O mar, esse elemento tão fascinante e amedrontador, desconhecido e límpido, que nos atrai e repele em proporções parecidas. O livro, um objeto do qual só avistamos a capa, nos aproximando pela beirada e decidindo se vamos mergulhar nas páginas do miolo, seguindo a fundo para chegar ao fim, descobrindo os segredos das histórias. E quantos perigos reais e imaginários, íntimos e coletivos, leves e avassaladores nos deparamos entre as páginas… às vezes, nos fazem até fechar a capa e voltar à superfície, deixando a obra de lado por uns tempos e respirando.
Mas, então, surge um novo elemento nessa relação dialógica, o mediador, que pode ser um professor, um parente, um amigo, é ele que ajuda o menino a mergulhar, e que pode nos dar a mão no virar das páginas, nos momentos em que nos desequilibramos e pensamos em desistir da obra, por algo que não gostamos, pelo medo do lobo mau ou da incompreensão da leitura.
O texto poético é carregado em metáforas que se referem à maneira como lidamos com o desconhecido ou com algo que nos provoca temor, como o mar ou um livro. O narrador interage com o leitor o tempo todo, chamando para participar do livro, convidando a procurar elementos nos desenhos, pedindo que feche as páginas com cuidado. Dessa forma, aproxima o leitor ao processo, seduzindo-o a acompanhar a obra até o final, oferecendo a mão e encorajando-o contra o que possa estar por vir.