Quando um menino tem uma girafa, ele não quer apenas uma girafa e ponto; ele quer uma girafa e tanto — para puxá-la pela ponta da corda e esticar seu ainda mais seu pescoço... E quer também dar a ela um chapéu barato, onde more um rato, e um terno chique e uma rosa colada saindo pela venta do focinho... Esse menino parece mesmo querer tudo, mas — debaixo de tanta parafernália, como é que se safa a pobre girafa?
Neste conto acumulativo, Shel Silverstein não esconde o espírito da crítica sob a roupagem da diversão: o personagem inventa tanta moda para seu animal de estimação que, afinal, menino e girafa se perdem em meio dos adereços. Existe uma leitura simbólica a respeito da amizade que cai no vazio (ou um buraco de tatu, como conta a história), e o tanto que um consumismo exagerado consome as individualidades e as relações entre gente e bicho, entre pessoas igualmente.
A história do bem humorado cartunista foi lançado em 1964, no mesmo ano quando publicou outros três títulos que se tornaram clássicos frente a várias gerações de leitores. Traz o seu traço ágil e comunicativo, juntamente a uma visão de mundo questionadora, além de provar que livro para crianças não necessita obrigatoriamente de um colorido expansivo para agradar e fazer cada um preencher os espaços em branca da imagem e da mensagem com suas leituras. Então, para compor um mundo melhor, a narrativa onde tudo era apego e excesso vai sendo desconstruída de uma forma ligeira e certa como um conto desacumulativo. Enfim a sós novamente, o menino e a sua girafa.