Um dia, um rio é um poema dedicado ao Rio Doce, uma denúncia em versos e imagens, uma obra dura e silenciosa que humaniza as manchetes de jornal, nos permitindo enxergar através das águas barrentas a perspectiva da natureza. As referências à morte e à destruição que estão em diversas páginas, nos peixes que carregam as crianças, nos trabalhadores e que se transformam em espinhas que vagam pelo leito de um rio que já não existe mais, não como antes. Vermelho, marrom, azul e branco dão os tons de sangue, morte, vida, silêncio, esperança, numa obra que nos permite refletir sobre os impactos do acidente na vida da população ribeirinha, dos animais e do ecossistema.
Nessa obra com texto poético, o narrador é o Rio, um menino de pernas finas, gorro azul e branco na cabeça. É dele a história que se vai contar, é com ele que vamos empatizar, um rio menino carregando seu patinho de borracha e não uma notícia. Um rio menino que se depara com um gigante em forma de fábrica cuspindo água marrom, simbolizando a lama e a sujeira derramada pela grande empresa. O rio é um herói, já teve seus dias de glória nos quais abrigava igrejas, ouvia as lavadeiras, abrigava as crianças, acolhia os trabalhadores. Um dia, atacado pelo inimigo gigante, sucumbiu. Só que rio menino é elemento da natureza, que se recria, se renova e volta como uma fênix. Cada pedaço do livro conta uma parte da história, as folhas de guarda trazem fios de sangue e esperança, o início e o fim que desembocam na resiliência da natureza, na cura do tempo, na renovação de cada dia e no sistema vivo que somos, Doce pode voltar a ser rio.