Um livro a respeito de livro e de uma história que começa, mas não vai pra frente, uma vez que eram dois amigos, um cão alaranjado, um pipa vermelha, numa paisagem bucólica, um céu rosa com rasgos verdes-violáceos e uma árvore... branca? O narrador imediatamente comenta — tal como fazem uns críticos olhudos superciliosos — que alguém se esqueceu de pintar a árvore, o livro está estragado: a culpa só pode ser do ilustrador. Tenta-se logo consertar, no entanto o que fica bem verde... é uma nuvem!
Depois disso, as coisas e as cores descambam, o fio da narrativa se perde, enquanto o leitor ganha uma rapsódia visual, uma música silenciosa composta de imagens, com direito a maestro, olhos nas penas de um pavão, bolinhas, bolotas coloridas, vitrine de uma loja de televisão e, acho mesmo, que entramos pelo fio carregado de eletricidade, vemos uma válvula de vidro, um tubo onde se forma a árvore branca, os passeios, a nuvem do algodão doce, uma confusão em todas as casas... que histórias podemos inventar e enfeitar?
O mundo está do avesso ou num verso, pois o narrador assume ares de poeta e já brinca com as palavras que vão e que voltam, unem-se, trocam de lugar. Árvore-nuvem ou nuvem-árvore carregada de frutas, ou balas de goma, ou círculos coloridos, ou cenas de circo ou... Quem tem olhos livres que acompanhe esta aventura e encontre atrás de tudo essa criatura estranha que poucas gentes conhecem: o Troca-Tintas!