Na linguagem doméstica de algumas crianças bem pequenas, “tem” significa um monte de coisas e opera como verbo de ligação ou ação, como o título desta obra de Gilles Eduar evoca, invertendo a frase: o trem tem tralalá, movimento ligeiro, sacolejo pra cá e pra lá, tem festa e barulho: tralalá faz o trem. E no desenho vemos a velha maria-fumaça conduzida por uma anta ou um tapir? E aqueles dois sapos tão dentro ou tão fora, vieram pra ajudar ou atrapalhar?
Mobilizadas nossas memórias nos jogos de linguagem verbal e visual, o adulto poderá atualizar a sua leitura nos trilhos que seguem. Este é um livro-brinquedo ou um livro-objeto, porque o trem se desdobra página a página numa tira que vira uma concertina ou um ferrorama de papel?
De um lado das páginas coladas, os vagões vão para um cerimonial: dois hipopótamos vão se casar, três jacarés levam a aliança, quatro onças... fazem o quê? E depois os porquinhos, as zebras e as girafas? A história é uma parlenda, temos aqui um numerário. Quando abrimos a última dobra, descobrimos o outro lado: a viagem festiva durante o dia se transforma na viagem de volta sob o céu azul marinho: os animais parecem cansados e fartos de alegria, a narrativa verbal vem organizada em dísticos rimados. Mas o jogo da leitura continua: será que no tralalá das imagens falta algum convidado?