Berna, Zurique, Paris ou qualquer capital europeia contornada por um rio poderia servir de inspiração ao ilustrador suíço Patrick Lenz para fazer o leitor aterrissar em sua narrativa. Abrirmos o livro e temos a visão aérea de uma grande cidade com seus muitos telhados, janelas pequeníssimas e as pontes indo e vindo com o tráfego. A partir do voo livre do narrador, chegamos a uma feira vivamente organizada. Entre as pessoas, ambulantes, bicicletas, barracas de frutas, verduras, legumes, o olhar da câmera procura o personagem: Tom é visto de costas, de mãos dadas a um senhor. Ambos caminham devagar. O menino veste calças claras e jaquetão roxo. Quando vira o rosto, nossos olhos encontram o perfil miúdo e delicado do menino.
Usando a linguagem cinematográfica, esta novela gráfica revela uma intensa dinâmica nos recortes e tomadas de movimento. Súbito, o menino congela os passos, a respiração suspensa. Todos os ruídos sonoros e visuais desaparecem num quadro só amarelo. Assim, levado pela subjetividade e pela luz da cena, o leitor se vê diante de uma árvore de pássaros exóticos presos em gaiolas — Tom se detém em um pássaro roxo à altura de seus olhos...
Esta é uma narrativa sobre o valor da amizade e as diferentes formas de cativeiro. O menino passa a vida fechado num quarto em desordem e o pássaro torna-se uma silenciosa companhia. No entanto, um dia ouve-se um comovente canto sugerindo caminhos semeados pelo vento: o canto do pássaro transforma-se num contar por imagens e Tom imediatamente entende a narrativa... e chora. É triste aquela hora, o instante do desapego.