Um homem se prepara para caçar mais um animal selvagem para a sua coleção. No centro da sala, vemos as malas prontas e o chapéu de safari. Em cima da mesa, um exemplar de O livro da selva, de Rudyard Kipling, que descreve como Mowgli fora perseguido por Shere Khan. Estas são pistas iniciais para a leitura do livro-imagem de Roger Mello, que se inspirou na foto de um tigre-de-sumatra, publicada em uma revista geográfica. Era um dos últimos animais de sua espécie! Curiosamente, antes de partir, o caçador desta narrativa irá retirar a imagem de um tigre de um álbum de fotografias para guardá-la em um porta-retratos.
Ao longo das páginas, as cores assinalam a distância entre o homem e o animal: enquanto o cenário e o protagonista humano aparecem em preto-e-branco, um forte amarelo alaranjado demarca a presença do tigre. A narrativa emprega variados ângulos, como faz o cinema, ao mostrar uma mesma cena sob diferentes pontos de vista. O livro toma um aspecto desconcertante, instigando o leitor a mudar sua perspectiva e questionar as versões unilaterais da realidade. É assim que, nesta ambientação, a porta, o espelho e também o porta-retratos servem como passagens por onde transitam a caça e o caçador, ambos fugindo de seus destinos e igualmente aprisionados.