As fábulas habitualmente desaguam nas histórias de animais — e aqui o cão Ulisses vem latir um caso a Clarice Lispector para ela colocar tudo em palavras, em linguagem de criança. É preciso que muita gente saiba o que aconteceu no quintal vizinho. Lá viviam o galo Ovídio, Odissea e outras galinhas, também vivia uma figueira que não dava filhos, ou seja, figos. Todas as aves davam ovos com que se pode fazer coisas gostosas, enquanto outros ovos viram pintos (o que é um caso muito verdadeiro), mas essa vida causava inveja à árvore. Por artes de magia de uma nuvem-bruxa, acontece uma temida situação: a figueira, ditadora, dá a explorar os galináceos. Cansadas, porém pensantes sempre, as galinhas cacarejam baixinho a solução que virá com o sacrifício e o desperdício de alguns ovos... contudo, nada será em vão!
Clarice Lispector, em suas histórias para crianças, elabora a participação do leitor na construção dos sentidos do texto, dando-lhe um lugar especial no andamento do enredo. Os narradores que ela inventa, seja o cão Ulisses, seja ela fingindo que é Clarice mesmo, dão sempre um intervalo necessário às crianças responderem suas indagações. E por que esta é uma história quase de verdade? Pois são coisas acontecidas realmente na imaginação de um cão ou são fatos do cotidiano, de quem não trabalha e explora os outros, que parecem até mentira que aconteçam de verdade pelo mundo?