A música e o amor, mais as crenças particulares, a força, os medos, o altruísmo poderiam ser ingredientes de qualquer narrativa, como nestes contos ciganos que mesclam cenas e falas comuns a histórias de muitos lugares do mundo. Por aqui e ali, surgem rapazes e velhos, belas jovens, lances de sorte, astúcia e sabedoria, objetos mágicos... Estes contos de caráter folclórico podem funcionar como um testemunho de que os ciganos fazem parte de uma sociedade organizada por eles mesmos, sublinham laços de parentesco que vêm do passado e alimentam um futuro tão breve com as oportunidades do presente. O cigano precisa andar atento e agir. Imediatamente.
Assim, a primeira história começa com um personagem, o belo e sábio Vásya, que deixa para trás a riqueza e o conforto de casa no intuito de viver o mundo; não falta a ele um toque de Ulisses e Malasartes, permitindo-se passar por tolo, sujo e humilde. Logo assistiremos ao rapto de Rosa no dia de seu casamento, algo bem ao gosto das narrações orientais; o final feliz não se encerrará em um castelo, mas está nos caminhos abertos à frente de ambos.
Com uma prosa rápida, numa linguagem bastante sonora para leitura em voz alta, os outros cinco contos contam das habilidades de uma cigana ler a sorte, ou melhor, as entrelinhas da vida; de um homem e seu precioso violino; de um morto que retorna a fim de ajudar um desconhecido que lhe prestara um favor; de um ingênuo gigante e, por fim, de São Jorge que quase cai do próprio cavalo! Os personagens deste livro tornam-se sinônimo dos vários jeitos de ser cigano, faces quase sempre observadas com desconfiança e alguma admiração. Para acompanhar as seis narrativas, as ilustrações se apresentam numa colagem de desenhos, fotos, notas de dinheiro, mapas, letras etc. como o imaginário múltiplo cigano, alinhavado de cores e referências.