Nem sempre um livro-imagem vem contar uma história ao leitor-espectador — e aqui temos um exemplo que bem poderia ser chamado de livro de filosofia visual para crianças, claro, de todas as idades. Trata-se de um livro para ver e fazer pensar.
Importante chave de leitura, já o título aqui estabelece uma curiosa conexão palavra e imagem. Na capa e nas páginas iniciais, reconhecemos várias cabeças humanas, destacando quatro importantes perfis. De olhos fechados, esses personagens não têm exatamente a cabeça plana nem a mente vazia: diferentes mundos ocupam sua atenção. Há uma cabeça tomada por fábricas e chaminés expelindo fumaça, respirando toda essa poluição. A segunda cabeça tem pássaros presos na gaiola de suas ideias. A terceira é uma cabeça quadrada cujos cabelos ou pensamentos são ruas, estradas e viadutos num emaranhado de veículos passando... Por fim, temos o perfil de alguém com plantas crescendo em sua cabeça.
Com qual máscara ou retrato você se identificou?
Anabella López oferece um jogo de espelhos e citações para olharmos profundamente dentro de nós. O livro apresenta como epígrafe os versos do poeta português Mário de Sá-Carneiro: “Eu não sou eu nem sou o outro,/ sou qualquer coisa de intermédio.” Com este mote em mente, vamos entender as combinações entre as quatro cabeças: o alarme dos pássaros frente ao avanço da poluição industrial, um olho aberto de cada personagem, o confronto de quem vive perdido no asfalto e quem respira a natureza. As páginas são densamente visuais e parecem gritar por nosso interesse, nosso momento de despertar.
É possível engendrar um mundo sustentável e equilibrado?
Conseguimos pensar outros mundos fora de nós mesmos?
Afinal, pergunta a autora: quem é você, na história fora do livro?