A poesia de Cecília Meireles é sempre muito bem-vinda à leitura com e para crianças. São versos que quase sempre nos remetem ao brincar, como se estivéssemos numa ciranda ao ar livre. Neste poema originalmente publicado em seu clássico Ou isto ou aquilo (1964), as risadas parecem que vão saltar das palavras e das imagens criadas por Cris Eich. Os chapéus dos pescadores são sóis e os cabelos das meninas, ondas alaranjadas, firmes e fortes que percorrem a vila como correntes elétricas.
Os pescadores estão em alto mar trabalhando. Enfrentam o sol, a espera, o cansaço, em busca do sustento de suas famílias, sorriem apenas em sonho, afinal, é uma árdua tarefa o que fazem. Estão exaustos. Nas ilustrações, eles surgem sempre de cabeça baixa, com sono, como se, para além do cansaço, os olhos fechados pudessem amortecer o tempo. Enquanto isso, as suas meninas cantam, dançam, rodopiam, sorriem e falam tão alto que as palavras alcançam o sonho dos pescadores. As meninas mergulham na ludicidade, ainda que sintam saudade de seus pais e que, subjetivamente, paire a dúvida sobre o retorno deles.
As filhinhas dos pescadores
cantavam cantigas de sol e de água
Os pescadores sonhavam
com seus barcos carregados.
A grande poeta brasileira, destina seu olhar lírico às infâncias. Convida gentilmente para que as crianças brinquem com as palavras ao lerem seus poemas, visitem universos outros como este dos pescadores e de suas filhas. E reafirma que o lugar da infância não é no trabalho, mas sim, no brincar.