Moomins são pequenos trols. Talvez tenham a altura de quatro dedos de sua mão, maior ou menor dependendo da idade e costumam viver atrás dos aquecedores no interior das casas, de forma muito pacata onde exista uma boa despensa de comida. Ninguém viu um moomin cara a cara, contudo as pessoas sentem sua presença como um fio de ar frio que às vezes passa pela nuca ou mesmo pela ponta do nariz.
Nesta história que a finlandesa Tove Jansson começou a escrever em 1939 e concluiu em 1945, encontraremos Moomintrol e Moomin Mãe, desabrigados, percorrendo o mundo em busca do pai e um novo lugar para viverem. Com eles, seguem uma criaturinha choramingas e a vaidosa fada Tulipa de luminosos cabelos azuis — passarão por perigos, encantos, fome, surpresas e esperanças, descobrindo o quanto doces são realmente uma tentação, mas causam dor de barriga, dor de dente e um pouco de preguiça; inesperadamente estarão na praia do lago de um mirmeleão ou formiga-leão que cava o chão à sua volta arrastando sua vítima para dentro da terra; ainda se encontrarão com os errantes amperinos enfrentando o mar bravio até que chegam a um vale extremamente boníssimo... No entanto, eles não estão completos para viverem felizes para sempre!
Mesmo que pareça apenas uma aventura de fantasia para crianças, num mundo diminuto e distante, as cenas de Jansson aliam humor e gravidade com generosa leveza. Desse modo, temas universais, como a busca pelo pai e o marido que parte de casa para conseguir melhores condições de trabalho e moradia, vão ganhando um contorno especial. Num período em que os humanos se envolviam numa guerra que atravessou países, os moomins também se ressentiriam das consequências, a falta de segurança e conforto, mas jamais abandonariam a coragem e a solidariedade. Ora, esta é a importância de ler uma narrativa em diferentes chaves, seja no embalo da trama, seja no registro do contexto que fez nascer e reverbera no enredo.