— Pare! Um único verbo é um texto completo, quando usado em um situação comunicativa da vida prática, por exemplo, dita por uma autoridade ou escrita no asfalto na proximidade de uma esquina. Uma interjeição também... — Psiu! Adquirindo timbre, duração e uma inflexão que modula o significado em diferentes mensagens, um chamamento de alguém às nossas costas ou um pedido de silêncio de alguém à nossa frente. Ops! São muitas palavras pequeninas que dizem muito para quem fala, para quem ouve, uma resposta envergonhada, uma constatação de que algo não saiu legal, uma surpresa, uma alegria misturada ao medo, uma conversa consigo mesmo...
Pois é tudo isso e mais um pouco o que encontramos nas páginas deste livro para bebês, com autoria de Marilda Castanha — uma narrativa visual com uma única palavra, dita e redita, descrevendo as descobertas de uma criança perante a realidade cotidiana dentro de casa. Tal qual o personagem, na primeira cena, o pequeno leitor precisa tirar as mãos dos olhos e descobrir as correspondências entre o som e as letras e o desenho pontilhado da palavra. A cada abertura de página também muda a abertura dos lábios, a inclinação da boca, a palavra gráfica vai mudando o tamanho, o comprimento e a coreografia, tal qual o corpo do menino. Ele derrubou o sorvete, perdeu o equilíbrio, quebrou a vidraça ou o letreiro, voou no balanço, contudo a interjeição não é sempre igual.
Por fim, qual espanto maior que o livro conter o próprio livro. Ops! Será esse o segredo do jogo literário à altura das crianças saindo do berço?