O livro-álbum para crianças pequenas é quase sempre uma construção simultânea de noções concretas e abstratas que alimentam a leitura de mundo, bem como o valor que damos às coisas mais próximas ou apenas desejadas. É importante ler a articulação narrativa que se perfaz da palavra e muito fortemente da imagem. Pois bem... numa manhã de outono, numa grande casa de madeira toda pintada de vermelho, com oito janelas, sótão, muito próxima de uma lagoa que repousa tranquila entre montanhas baixas, a mãe carinhosamente está terminando de rechear e cobrir um bolo — quem aposta que era um bolo de cenoura com geleia e chocolate? Seria um dia comum, um final de semana ou férias nessa imensa casa de campo? O relógio na parede marca exatamente 8h20, mas... Onde está Tomás?
O texto verbal é apresentado como uma legenda, em frases bastante curtas que informam o quanto o menino gosta de se esconder e conduzem os leitores a procurarem o personagem nas ilustrações. E existe, no livro, uma alternância. Cada cômodo da casa é retrato em uma imagem de página simples: este é o plano da realidade cotidiana que mostra a cozinha confortável com plantas que exigem pouca umidade nos vasos, a área de serviço abarrotada de roupas para serem lavadas e passadas, o banheiro com banheira, o divertido quarto do menino tão cheio de livros e brinquedos. Contudo, todo canto da casa também serve para Tomás imaginar que está em outro lugares: a abertura de página exibe uma ilustração maior, com o menino observando um vale dominado por dinossauros, um passeio numa savana africana, o espaço sideral, um céu repleto de pássaros, o descanso no meio da floresta...
Onde a mãe encontrará o menino? O quê e quem Tomás levou em suas viagens? Como uma espécie de livro de caça-objetos, são os detalhes que trazem surpresas no texto visual e nem mesmo a narração verbal (ou uma resenha) conta.