Tristeza é algo que às vezes não tem uma justificativa plausível. Ela chega e se instala, como uma moradora não autorizada, incômoda, desconcertante. Tem sido assim para o protagonista de Odilon Moraes,
“Olavo era simplesmente triste.”
Banhado na cor sépia, o menino segue o seu dia morno cumprindo-o apenas como um protocolo, até ser surpreendido pelo tom de azul no céu e por uma grata surpresa na porta de seu apartamento. O embrulho é um presente com fita e tudo! Sem a menor pista de quem havia deixado. Olavo é arrebatado pela alegria de ser lembrado por alguém, pela maravilha que é ganhar um presente. Seu corpo flutua pelas nuvens de tanta emoção... Mas, vem a dúvida: será que o lindo pacote está destinado a ele mesmo? Não tem nada o identificando.
O menino está apreensivo e se agarra ao presente como quem está com a esperança por um fio. Aquele instante de felicidade que o faz tirar os pés do chão se esvai, e reina a velha e conhecida tristeza. Mas, para a sorte de Olavo, há alguém que não somente o considera, como se empenha em lhe fazer sorrir.
A tristeza que acomete Olavo não é o que se espera para uma criança. Ao longo da infância a previsão é: o brincar e o sorriso. Não o tempo inteiro, claro. Há sempre os obstáculos, os percalços de quem está engatinhando na vida. Mas, no geral, é no âmbito da alegria que as crianças se sentem melhor para exercitar a liberdade, o potencial criativo e os afetos. Quando isso não ocorre, é de grande valia que estejamos atentos aos nossos pequenos, oferecendo a eles a escuta e a atenção necessárias, seja em casa ou na escola. Afinal, nem toda criança tem uma vizinha como Olavo.