De repente, a visão falha e deixa-se de enxergar pessoas menores. Apenas aquelas que possuem o mesmo tamanho ou são maiores são vistas. Reconhece essas características? Esses sintomas são familiares para você? Essa é a doença de um rei de um reino muito distante, onde os pequenos e mal vestidos nunca eram vistos e ouvidos. Não importava quanto os pequenos reclamassem, o rei nada notava.
O rei gostava muito de reinar, era algo fácil para ele. Escolhia os seus funcionários entre os falantes, os grandes e os bem nascidos. Logo a doença contagiosa se espalhou e os funcionários, soldados e amigos do rei também a contraíram. E todos ficaram cegos também.
O rei se sentia muito satisfeito com tudo, porque o que os olhos não veem, o coração não sente. Já o povo estava cansado de tanta labuta e percebeu que, ao se juntar, a voz fraca se tornava um trovão. As pessoas pequenas colocaram pernas de pau e, juntas, foram para a capital. Toda a nobreza tremeu com a multidão que chegava e agora era vista. Nem mesmo o rei quis continuar a reinar com toda aquela confusão.
O povo se espantou com a proporção que a situação tomou, pois só queria ser visto e ouvido. Como aquele reino continuou sem o seu rei, fica para a imaginação do leitor. Se surgiu um novo rei ou se mudou a forma de governo. Mas uma coisa é certa, o povo guardou muito bem as pernas de pau.
Parte da série O Reizinho Mandão, a história proporciona a reflexão sobre a relação entre poder, responsabilidade e empatia. Como também convida a pensar sobre democracia e liberdade. A narrativa é feita em versos e aproxima-se da poesia cordel. Conquistou reconhecimento imediato da crítica, ao ser lançada em 1981.