Já se passou muito tempo, desde o tempo que as crianças costumavam ganhar rotineiramente um apelido devido a uma característica física ou após uma peripécia dentro de casa ou na cozinha, por exemplo, comendo toda a massa para fazer bomba de creme. No entanto, é desta maneira que somos apresentados ao curioso e sonhador Patachu, um garoto de seis anos que um dia comeu toda a massa de manteiga, farinha, água e ovo, e fora logo ameaçado que, se repetisse a artimanha mais uma vez, seria devorado por toda gente!
Patachu mora em um sítio nos arredores de Paris, tem uma galinha chamada Clitenestra e um gato, o Clodomiro, que ele adora puxar pelo rabo. Sonha com tigres, cavalos, elefantes e gostaria muito que as árvores das cidades dessem frutos doces. Mas o principal é ter o Filipe, um tio jornalista que, afinal, é o narrador dos breves casos e memórias do menino. Assim, antes de ser uma aventura que se desenrola num fôlego só, temos aqui uma série de cenas que funcionam como um álbum de fotografias, revelando o jeito de ser Patachu.
As histórias foram publicadas em 1929, com o título original Patachou, petit garçon, e trata de ser uma miscelânea de reflexões, descrição do cotidiano e fragmentos de poesia. Já as ilustrações de André Hellé apareceriam em uma edição de 1932, empregando poucas cores em suas litografias
De tal modo, os leitores contemporâneos podem adivinhar que é muito mais o universo adulto que se deixar encantar e encharcar-se por uma visão gentil e pueril da existência. Os textos foram concebidos num período entre guerras e decanta as águas da Escola da Fantasia francesa, da qual Tristan Derème foi um dos fundadores. Como um exemplo do realismo mágico europeu na literatura para crianças, muitos especialista também apontam que Patachu é uma das principais e prováveis inspirações para Antoine de Saint-Exupéry compor seu O Pequeno Príncipe, de 1944. Mas é Patachu, com seu sabor adocicado com um bolinho ou leite de amêndoas com flor de laranjeira, quem nos faz acreditar que há por aí um professor Noel, que se pode cavalgar nas costas de um esturjão, que o Clodomiro, o gato filósofo, crescerá e será um tigre... que mia!