É interessante acompanhar a maneira como as crianças desvendam o ordinário. O que parece óbvio e sem graça aos nossos olhos ganha novos contornos quando recebe um banho de surpresa. Ver isso por meio da Literatura tem um encanto especial. Neste livro, uma garotinha descobre algo importante entre o seu avô e o pai de sua mãe.
Em um dia de praia, avô e neta armam o guarda-sol, alongam-se e sentem o vento, brincam com areia, baldinhos, jornal, mergulham no mar, nadam com boias... enquanto isso ela narra e traz à tona lembranças de sua mãe quando era pequena: “A mamãe falou que o pai dela sempre usava gravata e sapato fechado.”. “Sempre?”, ela se questiona enquanto estão com os pés descalços na areia. “A mamãe falou que foi o pai dela que ensinou ela a nadar”, “Respira pela boca”, “Solta pelo nariz”. As cenas demonstram que algumas coisas não mudam com o passar do tempo e que outras podem virar do avesso. E após esse dia de praia, já em casa, com tempo e conjecturas subjetivas, a protagonista conclui, ainda que acompanhada de um ponto de interrogação, como se dão os vínculos familiares entre ela, seu avô e sua mãe. Da maneira descomplicada típica da maioria das infâncias, numa cena corriqueira na mesa de café.
Os tons ternos das ilustrações, típicas de Odilon Moraes, desaceleram o olhar do leitor quase que instantaneamente. Um cenário de folga com apenas duas personagens, onde não há relógio, pressa, outras vozes. A praia criada para este álbum ilustrado é um paraíso particular.