“Vocês não gostam que eu faça perguntas, gostam?” Esta é a chave que resume o sentimento do garoto curioso, cheio de dúvidas e questionamentos, protagonista da narrativa deste livro. O desejo de compreender a si mesmo, às outras pessoas e o mundo é tamanho que ele não consegue se conter e pergunta tudo, o tempo todo, deixando família, professoras e amigos um tanto endoidecidos. A história, contada pelo mestre Ignácio de Loyola Brandão, é um relato bastante divertido, inspirado em sua própria infância no interior de Araraquara nos anos 1940. E como pode esta narrativa ter tanto em comum com as crianças de hoje, em realidades totalmente diferentes?
A resposta para essa pergunta parece conter a própria essência da infância: a necessidade de compreender, de não aceitar respostas prontas como verdadeiras e de duvidar até mesmo do que parece ser mais do que certo, fazendo até mesmo com que alguns adultos que cercam o menino fiquem embaraçados e nervosos... em parte, porque não sabem as respostas para tantas perguntas; ou porque pararam, eles mesmos, de perguntar.
Se ficam evidentes as diferenças entre as infâncias de 1940 e de hoje, igualmente conseguimos reconhecer nos personagens comportamentos e pensamentos presentes também nas crianças contemporâneas. Um exemplo é o personagem Zezé Crespo, que esconde sua gentileza e bondade sob uma capa de valentia e crueldade para que não pareça fraco e vulnerável diante dos colegas. Toda a relação do personagem principal com as professoras também é muito interessante. Há uma certa impaciência delas com tantas perguntas, ao mesmo tempo em que compreendem e incentivam o desejo do menino pelo saber. E vale destacar a figura do avô como uma das facetas do autor: alguém que lê muito e compreende que para fazer perguntas cada vez melhores é preciso continuar perguntando, sempre.
As ilustrações de Mariana Newlands são um deleite, dando um ar retrô às páginas do livro e ajudam a contar a história desse menino que todos já tivemos dentro de nós e que, com sorte, agora podemos ter ao nosso lado.