Tudo começa quando Bumba ganha um pintinho de sua professora. Voltando para casa na companhia da mãe, logo sentimos quanto podem ser diferentes a vida de uma criança e a ideia da infância, resguardada nos limites de um jardim escolar. Bumba, para manter o frágil presente, precisa escondê-lo sob a roupa — abafa os insistentes pios do animalzinho e o salto do coração de ambos, enquanto vão pelas ruas da cidade, fazem uma viagem de ônibus, adentram a portaria do prédio em que mora. O menino e o pinto sufocam. O mundo é feito de constrangimentos. É tensa a travessia. Nem mesmo a mãe quer permitir que o pinto de plumagem amarela e macia venha com o filho...
Importante texto da literatura infantil brasileira, O menino e o pinto do menino, de Wander Pirolli, foi escrito em 1972 e publicado em livro em 1975, imediatamente dividindo a opinião do público e especialistas. A ambiguidade no título traz uma pequena dose de travessura sobre o sentido literal ou figurativo do que seja o pinto do menino, uma estratégia para chamar a atenção do leitor e fazê-lo, na medida do possível, descobrir as dobras da narrativa.
Num plano, trata-se de uma história de alegria e angústia que inaugurou a tendência do realismo cotidiano na literatura para crianças, em um estilo conciso, às vezes seco, do escritor mineiro. A trama esconde um drama muito terno, comovente: as emoções do menino pulsam nos leitores frente aos demais personagens. Contudo, é também uma história a respeito das injunções sociais e da falta das liberdades: proibido criar um animal de estimação, obedecer as convenções, o condomínio, o horário extenso e exaustivo de trabalho, enfim, um cotidiano que oprime, quando o que precisaria ter lei não tem, enquanto tem o que não precisava. O pinto, o menino, a mãe e o pai do menino vivem todos lágrimas e sonhos.