De uma época em que o tempo passava mais devagar, quando conseguíamos fazer inúmeras coisas e aproveitávamos ao máximo as sutilezas da vida, o escritor constrói sua afetuosa e delicada história de infância.
Espécie de alter-ego do escritor, o menino passava muito tempo na casa de seus avós, Nena e Joca, devido à demora dos pais atarefados ou presos nas armadilhas da cidade grande, não permitindo que chegassem a tempo de buscá-lo na escola. Diversão e histórias não faltavam, também podia fazer coisas que os pais não deixavam, como ficar muito tempo na banheira e comer a sobremesa antes da refeição. Do que o menino mais gostava, no entanto, era a conexão e as trocas que tinha com os velhos, principalmente com o avô, que o ensinava jogar inúmeros jogos de baralho e até incluiu o neto nas histórias que contava.
Porém, o menino se transforma em outro grande tipo de herói ao investigar um misterioso segredo de família. Seu bisavô Alexandre, pai do pai do seu pai, apelidado pela vó Nena de “resbufaclão”, há tempos estava doente, já não se lembrava de muitas coisas do presente e não se dava tão bem com o seu filho Joca. Quando a tia-avó Celeste traz o bisavô para morar por um tempo ali, o menino decide descobrir o motivo da desavença, na intenção de aproximar novamente a família. Não seria nada fácil, mas ele inicia a sua busca ao modo do Detetive Vagner Vargas, o seu herói preferido, fazendo um monte de perguntas importantes no meio de uma pilha perguntas desimportantes.
Flávio de Souza é um roteirista que celebra a infância desde a década de 1990 em séries televisivas que marcaram época, como Mundo da lua e Castelo Rá-Tim-Bum. Nesta história tocante e cheia de referências ao passado, narrada em primeira pessoa, ele escreve com simplicidade sobre a relação entre pais, filhos e avós, e a importância de se construir pontes para o diálogo, alicerçados em momentos de partilha e de escuta.
Sem dúvida, “o não dito” nessa família provocou variados incômodos, rancores, tristezas e a barreira intergeracional que se arrastou ao longo de muitos anos, impedindo-os de expressar os sentimentos. Só mesmo um bom detetive, através de descobertas em um álbum de “photographias” em preto e branco, objetos antigos e constantes perguntas, desvenda todo o mistério e nos pega de calças curta!