Aqui temos um livro de quadras e quadros de Ricardo Azevedo ou, melhor dizendo, um álbum de trovas com as divertidas ilustrações de um dos autores mais importantes da literatura brasileira para crianças e jovens. As quadras ou trovas vêm do gosto que o escritor tem para as coisas de inspiração popular, já os desenhos que propõe o artista acabam por lembrar cenas e quadros de pintores surrealistas. Ricardo Azevedo trabalha duplamente: o verso claro e direto, a aquarela simples e clara — e, neste jogo, quase nunca sabemos o que veio antes: a palavra ou a imagem?
No livro das casas são retratas várias casas inusitadas que nem sempre têm paredes, mas podem ter quatro patas como um cão — a casa de uma pulga, o seu pasto e seu meio de transporte! Lembrando outros livros de Ricardo, onde mora a imaginação, onde nasce a invenção? Ele é o verdadeiro homem no sótão — este lugar preferido numa casa de alvenaria, ou sótão é metáfora para uma cabeça com janela verde aberta ao mundo? Vê? Pois verdes vós e todos nós também. Qual a casa da mordida e do sorriso? A casa das histórias, das cartas, dos desenhos, as muitas casas que cabem numa folha do papel?
Ampliando o léxico e a conexão entre as coisas, o conceito de casa é explorado como uma cidade cinza ou a floresta, o tempo e a prisão (ou seriam o relógio e o presídio?), o corpo e o sistema solar, as coisas que a gente pega com a mão e outras que só pesca pelo olfato... Enfim, um livro de casas — e inesperados casos pra se pensar!