A vida é um filme que volta e meia deve rodar para trás... Já passava da meia-noite, quando Christopher viu o poodle da vizinha imóvel sobre o gramado e atravessou o portão; abaixou-se, afagou os pelos encaracolados de Wellington, perguntando-se quem o teria matado. Ele gostava do cachorro. E ainda estava abraçado àquele corpinho morno, quando a Senhora Shears viu o adolescente em seu jardim: gritos, acusações, medo, ansiedade, esfriar a cabeça no orvalho do chão, mãos balançando seus ombros, pontapés no agente da polícia, uma onda de estímulos sensoriais... Exaustão. A mente de Christopher se desliga dentro de si mesmo, sem saber o que vai acontecer. Bem que o pai repetia, não se deve meter o nariz onde ninguém chamou. O pai tem seus cuidados. Mas, passar uma noite na cadeia não é legal. Agora o jovem tinha um caso de assassinato para desvendar.
Narrada em primeira pessoa, esta novela encerra outros mistérios na vida de Christopher Boone, um garoto inteligente, sensível, que ama lógica e não consegue mentir às pessoas. Christopher possui algumas particularidades do espectro autista e ninguém melhor do que ele mesmo para descrever sua investigação, ainda que lhe falte uma sutileza para interpretar faces, palavras e intenções. Conversando com vizinhos, com os professores da escola especial, brigando com o pai, e registrando tudo em um caderno (que também irá desaparecer em meio à trama!), o adolescente vai descobrir quão complicadas são as relações humanas, amorosas, familiares, como a história de seu pai e sua mãe. Há momentos que não têm registro em sua memória, então, como fazer para rever as cenas que não viu?
Num estilo fortemente realístico, os capítulos reservam surpresas — como a numeração que segue livremente pelos números primos, listas, previsões de dias bons, cartas, estratégias de ação e como se fazer indiferente (quase indiferente) às estranhas manias do neurotípico mundo adulto.