O tenebroso período da história brasileira em que pessoas negras foram sequestradas de seus lares na África e trazidas para serem escravizadas em nosso país deixou cicatrizes que estão abertas até hoje. Embora essa seja a grande história a ser contada, existem muitos relatos, individualizados, de pessoas que foram separadas de suas famílias e enfrentaram todo tipo de horror na luta para reencontrá-los.
Uma dessas pessoas foi Teodora Dias da Cunha, a Tiô, retratada na obra impressionante de Marcelo D’Salete, vencedora dos Prêmio Jabuti e do Troféu HQ Mix. Trazida do Congo e escravizada em São Paulo, ela foi separada do marido e dos filhos, escravizados no interior, e para quem enviou uma carta pedindo ajuda para conquistar sua alforria.
A jornada da carta de Teodora é, também, a jornada do livro. As palavras ditadas por Tiô encontram as mãos capazes de Claro Antônio da Silva, homem negro, também escravizado, que escreve para ela a mukanda, ou carta, no idioma quimbundo. Depois, a carta passa pelas mãos da menina Joana, e do menino Benedito, que fará de tudo para que encontrem seu destino.
Pelo caminho, o garoto encontra quem deseje lhe ajudar e quem quer lhe fazer mal. E não é preciso motivos, afinal, a história retrata uma época em que apenas por existir enquanto negro já era considerado uma afronta. Hoje, passados quase 200 anos, as coisas não mudaram tanto assim - e é justamente essa uma das reflexões mais importantes que podemos tirar dessa leitura.
Não deixe de conferir, também, os materiais de apoio que constam nas páginas finais do livro, e prepare-se para se emocionar com a reprodução das cartas originais de Tiodora. Um verdadeiro tesouro, que jamais pode ser esquecido.