Andar pela cidade e brincar de ver coisas, bichos, monstrengos, maravilhas, onde não estão — é esta a proposta do imagiário de Renata Bueno que começa com os passeios diários da arte-educadora pelo centro da cidade de São Paulo e vai ganhando forma em sua imaginação, depois vira um projeto de intervenção gráfica, a fim de que possa sair da mente, saltar da tela, virar página impressa a ser compartilhada com leitores-observadores.
A cidade é revista. Poderia ser uma galeria a céu aberto? Sim, podemos descobrir vestígios de uma beleza diferente daquela que condiciona a exposição de um artista. Essa outra arte está num olhar que captura uma sugestão: a mancha na tinta de uma parede, ora ressecada, ora com novos tons do tempo e bolor, os tapumes, os andaimes, os fios elétricos se cruzando, o calçamento desfeito. Tudo é feio para a maioria das pessoas que andam apressadas, mas tudo também é muito rico para ver livremente, com a mente livre.
A cidade é um viveiro de monstros a serem inventados. No entanto, o olhar atento também irá observar que, além dos acasos de cor, texturas e formas, existe muito descaso em deixar a manutenção do lugar onde vivemos ao deus-dará.