Tem gente que é ou parece ser diferente diferente, desde o momento que é apenas ovo ou zigoto. Ela ou ele logo se destaca no meio de um monte de ovos com uma casca lisa, porosa e esbranquiçada. Ora, de ovos iguais, parecem nascer criaturas bastante iguais na aparência e no jeito de pensar, como certos bípedes bicudos de óculos sérios. Contudo, eis ali um ovo grande, pink e peludo que só pode mesmo guardar um Monstro Rosa de um olho só, orelhas pequenas, braços descomunais, um sorriso escancarado tão cheio de vãos e dentes. Não é uma criatura que passa desapercebida por ninguém... E, sentindo-se um estranho num mundo ninho, durante as brincadeiras e no descanso, o Monstro Rosa decide procurar outro lugar — um lugar onde pode sentir-se em casa.
Na história que Olga de Dios escreveu e ilustrou, muita gente poderá reconhecer-se como essa criatura diferente: não ajustada às situações, querendo fugir e encontrar um espaço particular para muitos outros seres e monstros coloridos vivam amigavelmente.
E vejamos com atenção, desde a dedicatória do livro, com letras que se parecem feitas à mão. A dedicatória oferece as três principais chaves de leitura a respeito do gênero narrativo, o público a quem se endereça e a temática: “Este conto é dedicado a todas as pessoas que em algum momento já se sentiram um Monstro Rosa.” É um conto que exige do personagem transpor montanhas, águas e deserto, por noites e dias, como são muitos contos tradicionais que o herói faz uma viagem horizontal na linha narrativa, até encontrar um lugar de conforto. É também um livro sem idade, para crianças e adultos que ainda sonham com um mundo mais acolhedor e inclusivo, onde todos compreendam e sintam-se felizes com a variedade e a diversidade entre as pessoas.