Filha de uma antropóloga e de um cineasta indigenista, Rita Carelli passou um tempo de sua infância com a família na aldeia indígena do povo Enauenê-Nauê, no estado do Mato Grosso. Ela e o irmão ganharam pais e irmãos indígenas com os quais aprenderam seus papéis e tarefas. Rita achava muito mais divertido ser menino do que menina. Isso porque as meninas tomavam conta da comida e das crianças, enquanto os meninos brincavam, entravam no rio e subiam em árvores. Então, ela decidiu ser um... menino.
Contrariando uma das regras do grupo, atravessou o centro da aldeia, onde só os homens podiam andar, o que surpreendeu a todos. De forma sábia, a mãe indígena de Rita resolve a situação e a menina passa a fazer parte do grupo dos meninos. Mas só até um certo momento, quando ela vê a necessidade de ser reconhecida como menina novamente.
Nesta história autobiográfica, conhecemos a trajetória de uma menina em sua jornada de autoconhecimento e amadurecimento, a cultura e os costumes do povo Enauenê-Nauê e nos deparamos com questões de gênero. O que é ser menino e o que é ser menina? Até que ponto as culturas se assemelham ou se distanciam nessas definições?
A escrita de Rita Carelli enfatiza o respeito à diversidade cultural, principalmente em relação às concepções de gênero e aos papéis designados a cada um. Contudo, o ápice é o acolhimento à menina que migra pelos grupos a partir de seus gostos e necessidades, revelando tolerância e respeito ao indivíduo. As ilustrações misturam pintura e colagem em cores vivas com elementos da cultura do povo Enauenê-Nauê.