Imagine um leão de juba bem aparada e penteada, usando chapéu-coco, sobretudo com flor na lapela, calças compridas, dando seis autógrafos ao mesmo tempo para as crianças e fumando um charuto — na verdade, não é um charuto, mas outra caneta tinteiro na boca para ele habilmente assinar seu nome! Pois este é Leocádio, o famoso leão, o melhor atirador de todo o mundo... Porém não é este o começo da história que tio Shelby conta, mas é o ápice da carreira de um animal selvagem que conquistou muita coisa no berro, além, é claro, de uma dose extra de curiosidade, outro tanto de talento para aprender tudo o que os homens acreditam fazer de bom!
Neste livro escrito e ilustrado por Shel Silverstein, encontramos a primeira história que o dramaturgo e cartunista escreveu para crianças, em 1963, assumindo o papel de um narrador-coadjuvante dentro do enredo, o tio Shelby que, atravessando a rua para comprar um cachorro-quente, é interpelado por um jovem leão recém-chegado à cidade. A história pertence à tradição das fábulas e histórias de animais, revelando ainda hoje aos leitores a sua crítica moral aos costumes modernos, a busca por realizar os desejos num mundo regado pelas promessas do marketing e o consumismo, e também um alerta sobre as encruzilhadas, a perda da identidade e os sentimentos de pertencer ao não-lugar entre o que é da natureza e o que é da civilidade.
O livro começa e se encerra numa caçada na selva, no tempo em que Leocádio era muito jovem, nem tinha nome próprio, e muito depois, quando o velho leão descobre o quanto se transformou na selva de prédios, elevadores, business e fama na tumultuosa Chicago.